sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Fábula esportiva moderna

Eu tenho lido muito ultimamente sobre o Brasil sortudo, que vai hospedar os dois maiores eventos esportivos do Planeta em um intervalo de apenas dois anos. Isso não é sorte - temos mesmo um ótimo produto, fomos bem assessorados e estamos na crista da onda dos emergentes. Fabuloso.

Obviamente sei que nem tudo são flores - principalmente aqui, no médio-mundo capitalista verde-e-amarelo. Ainda tem muita gente com fome, sem escola, sem hospital, mas ainda tem muita gente sem informação e sem um pingo de visão de médio prazo. Eu aceito ouvir de um trabalhador analfabeto uma crítica pessoal com menos profundidade, afinal de contas ele é o produto de uma sociedade que o discrimina em seus mais básicos direitos. O que me tira do sério é a crítica do classe-média míope com curso superior, tentando parecer um socialista politizado com suas malidicências duras.

Explico e descrevo seus pensamentos de forma muito mais eloqüente, porém muito menos impiedosa (não consigo tal façanha). Esse "serzito" torna pública a sua crença na enorme injustiça social que será cometida nos próximos anos, onde bilhões serão investidos em estádios de futebol, quadras poliesportivas, centros de treinamento, estradas, calcadas e internet sem fio. Enquanto o gringo acessa a web em praça pública, os filhos das nossas mulheres brasileiras pedem esmolas no sinal. Enquanto Seleções de países onde nunca se viu um sem-teto bailam em nossos gramados novinhos, a violência assombra as famílias de bem.

Esse sujeito-beta obtuso está embalado por um racional muito simples e simplório, sem perceber o mar de oportunidades que ele mesmo pode começar a aproveitar - aprenda inglês, meu amigo, assim dá pra criticar em dois idiomas, sendo que um deles vai elevar ainda mais a sua audiência polêmica. Na sua concepção frugal de movimento econômico sustentável, a cesta básica é um dos investimentos de maior retorno do momento.

Tem, sim, muita coisa a ser feita. E os brasileirinhos estão com a faca, o queijo e a goiabada nas mãos para fazer uma boa parte desse enorme movimento acontecer - um divisor de águas para os nossos valores como sociedade, para estarmos inseridos no cosmos de forma relevante, não somente por causa do Caetano ou da nossa água-de-côco (com perdão pela quase redundância entre os exemplos).

Enjoy it! Ou não...


segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Restabelecendo o vínculo

Acredito muito que a nossa atividade – comunicação – semeia a liberdade de escolha. Aquela história de incitação ao consumo já virou bordão de placa de caminhão fenemê. Temos consumidores muito mais espertos e críticos, não só porquê existe uma infinidade muito grande de opções, mas porquê existe uma infinidade de meios para que ele busque informação sobre o aquilo o que consome. E é justamente nesse período, de exercício total da livre escolha, que ele está sentindo a necessidade de, novamente, construir relacionamentos.

Os homens de hoje em dia querem casar. Isso é surpreendente. Com uma população feminina bastante superior em quantidade, os homens querem relacionamentos sérios e duradouros – não ria se você não é um deles. Mas certamente você é um sujeito fiel à marca de cerveja, fiel à marca da camisa e ao vendedor da loja, que sabe o corte que você gosta. Diante de um mar de possibilidades fugazes, mas muito competitivas entre si, o consumidor quer sentimento. Na prateleira tem marca conhecida, desconhecida, marca própria, marca diabo. É claro que o preço conta, mas o sentimento está falando mais alto, mesmo que a experiência de compra aconteça em poucos segundos – você vê aquele logotipo e ele lhe provoca uma sensação. Se foi ruim, só quando estiver numa oferta imperdível; se foi boa, pronto! Mantenha esse cara encantado e você vai ter não só um consumidor fiel, mas um multiplicador dessa percepção positiva.

Não podemos, aqui, confundir sentimento com fidelidade. Fidelidade é um conceito banalizado pelos clubes de milhagens, pela ânsia de comprar e ganhar. Estamos falando de vínculo. Puro e simples apego sentimental, onde só o que se espera em troca é a atenção e/ ou superação às suas expectativas. Abro aqui um parêntese especial para falar sobre expectativa. Essa palavra bonita é simplesmente a baliza mais relevante para nos considerarmos felizes ou derrotados num empreendimento. Expectativa é o termômetro da satisfação. Nero não teria colocado fogo em Roma se a sua expectativa de ser reconhecido como líder tivesse sido atendida. Ser feliz com alguém que você gosta depende do tamanho da devolutiva que você espera desse alguém. Êxito ou fracasso são íntimos e dependentes da tal expectativa. Ela é tudo na vida.

E no caso das marcas, o valor de troca da minha preferência é a satisfação em empenhar o meu dinheiro por uma expectativa atendida.

Já parou pra pensar como isso é valioso? Esse raciocínio, se matemático fosse, seria uma sentença simples: quanto maior o número de opções, maior a pulverização das preferências, justificadas por argumentos bastante racionais como o preço, o sampling ou outras medidas de guerrilha competitiva. Porém, nesse assunto, abaixo o cartesianismo! Quanto mais opções, mais vemos negada essa prostituição, mais se fortalece o vínculo. Eu acho que o consumidor ficou tonto. Cansou de aventuras e, embora apaixonado, manifesta uma segurança nervosa: se ela me trair, eu troco, já que existem tantas outras.

Chego à conclusão óbvia de que a direção correta é mesmo a do coração. E não bastam um bom cupido e um presente caro; é preciso entregar a promessa. O consumidor cobra. Se não, ele troca. Sem chance de discutir a relação.



segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Demanda e liguagem.

Me deparei esta manhã com dois exemplos muito semelhantes de linguagem publicitária, que me fizeram lembrar de um terceiro na mesma batida.

Existe uma pasteurização na linguagem?
Existe uma tendência?
Existe uma única produtora audiovisual dominando o mercado?

Vai saber.
Enjoy.



segunda-feira, 20 de julho de 2009

O Mito das Redes Sociais

As redes sociais são uma das mais antigas formas de relacionamento das sociedades organizadas de que se tem notícia. Das mais complexas às mais simples formas de junção, o ser humano dotado de mínima inteligência cria maneiras de se segmentar e buscar os seus comuns para promover troca e se ordenar socialmente – estimulado pela sua proximidade geográfica, interesses econômicos, religião, esporte favorito, receitas de comidas sem carboidratos e por ai vai. Motivações não faltam, uma vez que o homo sapiens é dotado de uma privilegiada estrutura de convivência e não de isolamento ou solidão – ele precisa fazer parte de uma sociedade (do latim, societas = aglomeração/ associação de pessoas).

Não, as redes sociais não são oriundas da internet (lamento!) e tampouco uma exclusividade da web, mas é inegável que o poder de capilarização da www acelerou a sua penetração junto aos usuários da rede mundial, transformando as social nets em um “lugar da moda” – não fazer parte de uma rede social virtual é quase como não saber que o Vik Muniz é brasileiro ou não fazer terapia ortomolecular: você está literalmente “out”. Se você não tem um Facebook em plena atividade, um conselho, meu amigo: compre uma caixa de chá e vá conversar sobre o tempo com a sua bisa, porque você não terá mais influência alguma sobre os seus amigos. Provavelmente nem sobre os seus sobrinhos.

Separemos bem as coisas, então: rede social é um assunto mais velho do que andar pra frente, só que alguns meninos tímidos resolveram se aproximar do resto do mundo através da internet, um veículo extremamente barato, veloz e eficiente – uma química absolutamente perfeita. O que nós, publicitários, comunicólogos e marketeiros ainda não compreendemos é que a internet, com todos esses predicados, é só o meio de propagação das relações interpessoais e a próxima pessoa que disser “vou criar um viral para a internet” merece ser sumariamente despedida.

Estamos na fase do back to basics: uma ação bem-sucedida na web é aquela capaz de extrapolar a internet e promover um encontro ao vivo, carne e osso, entre seres humanos comuns. É aquela capaz de motivar as pessoas a sairem da frente das telas de seus computadores conectados e se encontrarem em uma praça pública para cantar, dançar ou tirar as calças. O maior desafio das redes sociais é nos fazer voltar à vida real, tal como sabíamos há alguns anos.


terça-feira, 7 de julho de 2009

De vez em quando eu preciso falar da profissão.


Eu preciso falar sobre novos velhos conceitos que surgem, adormecem e ressurgem quando a gente lê um livro, faz uma viagem ou ouve alguém falar daquilo. Como se fosse algo inédito, a gente se apropria e repete.

Que coisa mais chata.
Que coisa mais recorrente nessa nossa profissão, que é mesmo afeita a reviews e adaptações de coisas que já existem, mas que a gente insiste em cunhar e autorar.

Acabo de me deparar com uma nova modalidade, um novo vocábulo, um novo rótulo: o Bismarketing – uma forma limpa de designar aquela ação que, de tão bacana, ecoa, reverbera, se replica pela única e exclusiva vontade e pedida da platéia.

O Bismarketing, diferentemente da maioria dos nossos vocábulos marketeiros favoritos, não é consequencia, nem resultado – ele é causa. O Bismarketing é o mantra pela busca da relevância, da aderência, e isso só se consegue quando a gente entende tanto daquilo que é capaz de virar um aquilo, só para ter certeza de como ele se sente.

O Bismarketing sobrevive de estratégia, de estudo, de profundidade e de sensibilidade, elementos que poucos prazos e poucas verbas por ai têm nos permitido agregar, mas que, em um retrato de mercado como esse, altamente competitivo, é uma obrigação nossa perseguir.
O Bismarketing distingue a inteligência competitiva do planejamento estratégico generalista; a big idea da obrigatória solução criativa; o momento de contato do passivo e disperso ponto de contato; o engajamento pertinente do primitivo estímulo de consumo.

O Bismarketing é um novo benchmarking.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

AVC-C

O cérebro tem dois lados. E o coração também.

O coração tem um lado pensante que quase me mata. Ele insiste em achar que pode e deve relativizar sobre os meus sentimentos. Acho que é a convivência - mesmo à distância - com o encéfalo evoluído que habita o hemisfério esquerdo - meu carma, meu irmão mais velho militar aposentado.

Eles devem se falar via msn, trocando experiências e tramando sobre como limitar o meu campo de atuação mais subjetivo.

Ora, vejam! Ela precisa de gestão - eles gritam!

Vou ali obstruir uma artéria e já volto.

terça-feira, 30 de junho de 2009

Idem. Ibidem.

Um felino feroz.
Lona, picadeiro.
Contexto.
Grades por todos os lados.
Precaução.
Seu domador, não lhe peça a pata.
Noção.
Sua vocação não é essa.
Diagnóstico.
O domador sem braço brada 'direitos humanos'.
O felino perde(u) a cabeça.
Aplausos.


sexta-feira, 19 de junho de 2009

Virtual

Li hoje uma pesquisa que diz que conversas pela internet já resultaram em sexo para 7,3% dos usuários. Espetacular. 

Isso demonstra o poder de capilarização dessa ferramenta que, mesmo em um país com 10% de analfabetos e quase 70% de classe média, tem um nativo capaz de romper as fronteiras do intangível e fazer sexo com um parceiro que conheceu através de um monitor e um teclado. 

Obviamente, os mais pré-dispostos a esse desapego estão nas classes mais favorecidas, com grau relativo de escolaridade e acesso indiscriminado aos conteúdos da internet, como as famosas salas de bate-papo. 

Uma prova de que a internet, além de proporcionar acesso horizontal à qualquer tipo de informação, também aguça sobremaneira a nossa capacidade de abstração. Nao existe mais olhar, cheiro, dor de estômago? Ao que parece, se você for um bom redator, já sai em larga vantagem e, assim, vamos evoluindo em direção à horizontalização dos relacionamentos - com perdão pelo trocadilho.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Já estamos em junho.

Já estamos em junho. Que coisa.
Eu sempre escrevo pra marcar datas e momentos. Fim de ano, aniversário. Dessa vez, escrevi despropositadamente para lembrar (me) que já chegamos na metade de 12 meses. 

Reflitamos, todos, o quão próximos estamos de concretizar ou, ao menos, concluirmos as fundações sólidas dos nossos empreendimentos prometidos na madrugada da virada. Bêbados ou não, são compromissos importantes. 

Ou, mesmo sem promessas, pensemos sobre as coisas que farão do nosso ano, um ano memorável. 

Eu tenho uma lista legal:
1. comprei uma casinha;
2. recolhi um cachorro da rua (disso eu me arrependo um pouco. Não por mim, mas por todas as coisas mastigadas ao longo do período);
3. fui solidária às vítimas da tragédia de Santa Catarina;
4. mandei algumas pessoas do mal para lugares inimagináveis pela minha mãe;
5. acolhi outras nem tão do mal, pra ver se ajudo;
6. contive o meu lado crítico (mas não muito);
7. conheci pessoas excelentes e deixei que elas me conhecessem também;
8. aprendi que o cinza é o novo preto.

Essa lista tende a crescer nos próximos 6 meses.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Mitos que amamos e conservamos para todos, sempre.


1) Mulher não entende nada de carros: eu resolvi esse problema recomendando à todos os meus clientes do setor automotivo que abrissem seus olhos para este novo filão de mercado - a mulher. Assim, podemos ocupar nossa CPU com outros conhecimentos mais úteis, enquanto eles se preocupam em desenvolver oficinas e workshops super esclarecedores em troca da nossa fidelidade.
 
2) Mulher precisa de um homem para abrir o vidro de conserva: não requer força, somente prática e conhecimento de leis básicas da física - enfie uma faca sem ponta por debaixo da tampa para deixar o ar entrar, pois a culpa toda é do vácuo. Se não funcionar, evite as conservas - isso diminui as suas chances de morrer de botulismo.

3) Mulher adora shopping: se algum dia, os homens que proferem esse absurdo derem-se ao trabalho de estudar um pouquinho a antropologia do consumo, vão perceber que são os shoppings que nos adoram, única e exclusivamente porque nossos cartões de crédito são movidos pelos nossos impulsos e que, por isso, um lugar com muitas opções aumenta as chances de gastarmos. Somos, no fim das contas, pobres vítimas desses sangue-sugas capitalistas, que entendem nossos desejos consumistas e inventam respostas adequadas para eles. Onde esse mundo vai parar...

4) Homem garanhão | Mulher galinha: todo mundo conhece esse pilar da sociedade patriarcal machista, resíduo primordial das falhas de criação que tivemos na fase oral da vida e que se refletem, anos e anos depois, em nossos comportamentos censuradores e recalcados. Para piorar a situação, afirmo com veemência que já ouvi muita mulher vomitar essa bobagem, o que só faz me isentar de qualquer rótulo feminista. Se você acha mesmo que mulher só troca fluidos com papel assinado e comunhão de bens, lhe digo que até o Machado de Assis já conhecia outras fórmulas mais modernas lá no século XIX.

5) Mulher só assiste a filmes de romance: vocês já pararam pra pensar que isso pode ser um recado? 

6) Eva foi feita de uma costela de Adão: dogmas como esse não deveriam entrar em discussão, mas já que o assunto se configurou em uma pequena guerra dos sexos, achei apropriado discorrer sobre os primordios dessa desavença. Quando Deus decidiu pegar uma costela do cara, foi meramente simbólico - podia ser uma amígdala, o dedo mingo ou qualquer outro pedaço sub-utilizado daquele corpo. Isso comprova que Eva nasceu sem dever nada para o Adão, uma vez que Deus foi o criador de tudo e que faria uma mulher usando chiclete e palito de fósforo, que nem o McGuyver.

7) Toda mulher gosta de rosas: a Ana carolina também acha isso. Eu não. As rosas têm um lado "old school" que eu até aprecio, mas a natureza é variada demais para esse tipo de rótulo.

8) Mulheres modernas não admitem que o homem pague a conta: isso é uma grande bobagem. Arrume maneiras mais criativas de demonstrar gentileza e solicitude, ou continue deixando essa missão a cargo do seu Visa.

9) Homem é como vinho, quanto mais velho, melhor: vamos por partes. Antes de pensar em ser vinho, toda aquela matéria-prima sofre um processo que seria muito mais interessante e produtivo para os homens: selecione os mais suculentos; pise bastante; deixe sozinhos e, de preferência, no escuro por uns tempos até que, enfim, mereçam dividir a mesa com você. 

10) Mulheres são loucas por sapatos: se depender de mim, esse é um mito que jamais vai cair (do salto).



segunda-feira, 18 de maio de 2009

Paixão colorada

Sempre achei que, com o passar dos anos, essa euforia fosse se amenizar. Deixar de gostar do assunto totalmente nunca foi uma hipótese, mas dar fiasco no meio do bar também não era uma das minhas opções. 

Quando pequena, à sombra do meu pai, peguei esse vício incontrolavelmente (ainda) masculino de gostar de futebol. Não bastando os escândalos quando era proibida de ir ao estádio - deve ser um saco levar uma guriazinha ao jogo todo santo domingo - me projetei aos gramados e fui defender algumas bandeiras entre os 12 e os 18 anos. Sim, fui jogar e ganhei destaque como ponta de lança - função que nem leva mais esse nome. Oras também na camisa 10 - coisa que raramente se vê hoje em dia, mas, não pelo desuso do termo e sim pelo desuso da função mesmo. 

Esse comportamento técnico-passional, de xingar e vibrar com embasamento tático sobre o esporte, num misto de palavrões brandos e mandatórios absolutamente funcionais sobre a performance do jogador ou a estratégia do adversário, sempre chamou a atenção dos espectadores dos meus "espetáculos" públicos. Para o bem e para o mal. Alguns homens muito interessados; algumas mulheres valorizando o aspecto patético do gestual exagerado, das mãos balançando, dos punhos cerrados na hora do gol. Lágrimas são menos corriqueiras, mas pelo menos são bem mais femininas...

Vergonha? Não sei explicar direito, mas, na hora, é como se eu sumisse, como se eu ficasse invisível ou adquirisse algum superpoder capaz de me fazer acreditar que nada estava acontecendo aos olhos dos outros.

O mais triste disso tudo é que a idade não levou essa coisa embora. Sequer amenizou. Nem morando a mil e duzentos quilômetros de distância do "celeiro de ases". Quanto mais eu entendo do assunto, mais difícil fica largar o vício - tenho crises de abstinência severas se não sei o que está acontecendo inclusive com os adversários das próximas 23 rodadas. 

Se com a maturidade, o "semancol" não veio de série, ao menos fiquei mais esperta. Optei por assistir a todos os jogos - ao menos os mais importantes - no sossego do lar. Torçam pra eu não perder o marido e, por favor, evitem tirar conclusões de nível psiquiátrico sobre o meu superpoder.


quinta-feira, 14 de maio de 2009

Texto fofo.

Hoje eu não vou escrever nenhuma crítica sobre nada. Vou tecer comentários elogiosos.

Eu vou elogiar alguns tipos de amizade que eu conheço, e que realmente fazem a diferença na vida de qualquer ser humano capaz de produzir números mínimos de sinapses para entender o que isso significa. Sim, pois o que seria dos sentimentos sem um organismo pensante que os relativizasse e provasse ao seu dono que isso é mesmo especial?

Eu ouso chamá-las - essas amizades - de amores, porque não. E em geral as minhas vítimas são tão merecedoras, que não importa se ficamos meses ou anos sem nos ver - quando a gente se vê, tá tudo igual. São vínculos não-perecíveis, não dão cheiro e não soltam as tiras. 

Amizades mais recentes também tem crédito nesse rol. E você vê de cara quem são os candidatos com potencial ao trocar um simples aperto de mãos. Não precisam ter sorriso franco ou bochechas coradas como dizem nos manuais sobre amizade, mas ter coisas do lado de dentro que, de tão verdadeiras, são visíveis a olhos nus.

Eu sou mesmo uma criatura privilegiada e agradeço a cada um dos meus amores-amigos. São de todos os tipos e jeitos diferentes, cada um com a sua coisa maravilhosamente especial que me conquista e me faz querer ser melhor todos os dias para merecê-los.

Hum, que fofinha. 
 

quinta-feira, 30 de abril de 2009

tantas coisas

Quando batizei esse espaço pós-adolescente de "tantas coisas", fui ao ipsis líteris da expressão. Não foi por acaso. E é com ele que eu preciso aprender, todos os dias, um depois do outro, que existem tantas coisas mais importantes na vida do que aquelas que desagradam a gente nesse momento... tantas coisas mais belas do que outras que nos ferem as pupilas... tantas coisas mais profundas do que a irrelevância de determinados comportamentos rasos.

Vivendo e aprendendo. 

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Essa coisa de saudade

Muito louca essa coisa de saudade.
É uma dorzinha estranha, voluntária e com requintes - brandos - de crueldade.

Eu desenvolvi um método revolucionário de lidar com esse sentimento semi-devastador, uma técnica de sobrevivência muito funcional, em especial para aquelas pessoas que, como eu, afastaram-se do seu habitat natural em busca de algum tipo de cativeiro distante.

Me auto-sugeri a deixar a maldita se aproximar de mim somente quando estou na iminência de acabar com ela. Interessante mecanismo. De auto-defesa mais pura, pois não tem nada pior do que essa sensação. É um misto de raiva - pela impotência da distância ou de uma ruptura qualquer - e de prazer - pela possibilidade de rever as pessoas e viver com elas justamente aquelas experiências que fazem você sofrer por isso.

É simples, não requer prática nem habilidade (apesar da prática ser muito saudável, porque deixa você cada vez mais safo no assunto). E, diferentemente do que alguns devem estar pensando ao lerem essas linhas, tampouco se trata de disseminar metodologias mercantilistas, frias e comerciais para lidar com sentimentos nobres difundidos pelo mundo a partir da queda do muro de Berlim, da união entre os povos e da democratização das fronteiras comerciais entre as nações - afinal, até o Obama perdoou os cubanos. 

Não sou apologista dos organismos cibernéticos de coração indestrutível, mas enquanto eu puder, hei de me defender, de me poupar. Vejo só o lado delicioso do assunto. Só penso na parte ruim quando a parte boa está me esperando no aeroporto com igual sentimento.

É uma forma apropriada de categorizar os sofreres. Coloque-os em diferentes caixinhas, feche-as e abra somente quando solicitado no guichê. É o mesmo que acontece quando estamos apertadíssimos para fazer xixi: quanto mais pertinho do banheiro, pior fica a dor do aperto, não?. Abrindo o ziper, baixando a calça... antes disso, procuramos nem pensar que existe uma bexiga compondo o sistema urinário humano e, muito menos, que ela está gritando daquele jeito ensurdecedor. Depois, o único residual  de todo esse processo traumático é aquela sensação deliciosa - alívio, conforto.

Viu só? Um exemplo cotidiano que desmitifica a técnica - você tambêm faz isso e nem sabia.

Ah, esse meu lado direito do cérebro... sempre obrigando meu lado esquerdo a trabalhar.



segunda-feira, 16 de março de 2009

Eu prometo.

Aos meus amigos bloggeiros, eu prometo que vou me esforçar para fazer textos mais curtos.

Eu espero.

Eu sempre me preocupo em não cair no clichê dos textos de auto-ajuda, portanto já começo deixando um ponto importante bem claro: não é conselho. Mas como tudo o que a gente lê ou absorve em termos de informação tem a obrigação de acrescentar algo - ou não, como diz o Caetano - é inevitável que eu queira provocar uma reflexão nessa leitura.

Na realidade, a reflexão já começou na redação desse conteúdo – a minha reflexão, no caso – o que não significa que eu leve alguma vantagem competitiva só porque eu sei o final da história. Eu só comecei a refletir uns minutos antes.
Saindo da reflexão e indo para a prática – a minha prática, no caso, porque eu já refleti, afinal já escrevi e reli o que eu escrevi – você já respondeu a essa pergunta alguma vez na vida? Ou melhor, você já se perguntou o que você espera alguma vez na vida? Esse é o tipo de pergunta que pode provocar um turbilhão de reações, ou melhor, é o tipo de pergunta que provoca uma resposta ou tentativas de resposta que podem deixar o sujeito abaladíssimo.

Como assim? É normalmente essa a “frase-reação” mais imediata – você, que nunca ouviu ou se fez essa pergunta não deve saber, mas eu lhe garanto, pode acreditar. Essa é não só a resposta mais recorrente como também a mais adequada, afinal de contas não deve existir questão mais abrangente do que essa.

O que você espera do trabalho, do casamento, dos amigos no aniversário, da moça que ajuda a limpar a casa, do bicho de estimação quando você enfia a chave na porta de casa, da cara de bobo do sujeito que te esnobou na escola quando você era gordinha e usava aparelho ao se cruzarem na saída da aula de spinning, da primeira mordida naquele brioche de doce de leite que você atravessou a cidade pra comer. Eu costumo dizer que tudo na vida é expectativa – do latim, esxpectare: situação de quem espera algo; esperança. Essa terminologia, apesar de uma enorme carga de passividade, reforça o quanto é importante almejar, acreditar e desejar, às vezes muito mais do que simplesmente agir.

Diariamente, nas salas de aula, nos escritórios, na televisão eu reparo como as pessoas se vendem como seres de ação – vou lá e faço, não fico esperando. E lá vou eu, mais uma vez, travar uma batalha semântica e, mais do que isso, atitudinal com metade do mundo. Você pode ser um sujeito de ação, demonstrar toda a sua força, andar de lombo ereto, confiante e pisando firme, mas não há ação maior, melhor e mais eficiente do que aquela que vem acompanhada da fé. Quem espera, ou melhor, quem tem esperança em algo, é alguém que compartilha as possibilidades com o Universo ao seu redor – a possibilidade de dar certo ou errado, ou diferente do que se esperava, mas de estar aberto às hipóteses, a uma convergência de fatores que podem definir um acontecimento – inclusive uma ação sua na direção desejada, por que não? Não deixe de agir, mas não deixe de querer, antes de tudo.

Não deixe de desejar, de ter expectativa sobre as coisas. Mesmo que no fim das contas não saia tudo exatamente como você queria, certamente o sabor do doce de leite escorrendo pelas suas papilas gustativas vai curar qualquer olhar debochado do seu colega de escola.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Verdadear

Diferentemente do verbo mentir, falar a verdade não é um termo conjugável independente. Não existe verdadear. Será por que a verdade sempre exige uma verbalização?

Eu minto, tu mentes, ele mente e todo mundo faz isso da forma que acha melhor, mas a verdade nunca vem sozinha, livre, particular. Falar a verdade, pensar na verdade, imaginar, desejar.

Eu verdadeio, tu verdadeias, ele verdadeia e assim todo mundo pode pressupor a verdade automaticamente, como uma fala que, apesar da sua sonoridade pouco confortável, fica mais fácil, mais presente, mais usual na nossa atitude, no vocabulário.

Essa não é uma discussão gramatical, é conceitual. Facilitem a vida da verdade, des-substantivem-na, verbalizem-na.