quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Desde junho

Não escrevo desde junho.
O que não quer dizer que não tenho assunto desde então. Ao contrário, a pauta ficou extensa, a rotina revirou, as decisões se apresentaram. E as mudanças inevitaram. Quando assim, se escreve, se lê, mas não se publica.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Medidas.

As mulheres, tolas, tem unidades de medida completamente distintas e particulares para o amor.

Mede-se o sentimento pelos jantares, pelas velas, pelas vezes que ele entra no seu blog e comenta os seus textos.
Mede-se o envolvimento pelas garrafas de vinho e pela quantidade de vezes que ele fala sobre amor e filhos todos os dias.
Mede-se a cumplicidade pelos presentes assertivos, pelos almoços improváveis no meio da semana, pela preguiça compartilhada.
Mede-se pela quantidade de vezes que ele tira você pra dançar, oferece-lhe um brinde ou elogia o seu vestido.


E isso tudo tá certíssimo.


segunda-feira, 6 de junho de 2011

Feliciando.

A felicidade deve ser um dos temas mais discutidos, replicados e treplicados de toda a história da humanidade em todos os tempos, âmbitos e foruns. Na música, na filosofia, na conversa entre comadres, estamos sempre perseguindo respostas para o intangível.

Ser feliz? Estar feliz? O meu favorito é "A felicidade é uma eterna busca..." dentre tantos outros bordões populares que habitam o inconsciente coletivo e alimentam a retórica cotidiana na caça por uma resposta convincente e - porque não - eloquente.

Aprecio que cada um tenha a sua teoria e que se juntem os comuns. Sigam-me aqueles que querem perseguir a felicidade com doses equilibradas de algumas mazelas, porque sem o mal não se sabe o bem, sem o amargo não se conhece o doce, sem a dor não se entende a bênção de uma risada larga por motivo nenhum.


quarta-feira, 1 de junho de 2011

Flores

Estão no vaso.
No canteiro.
Na réstia de verde entre as rachaduras de um velho muro.
Não importa de que tipo, qual o traço.
Preciso delas, sou totalmente viciada.
Carrego nas costas.
Perfume neutro, cores das mais diversas.
Textura macia, manchinhas.

Preciso olhar para elas e lembrar de algumas belezas que eu, por vezes, esqueço.

terça-feira, 29 de março de 2011

Mentira.

Esconde. Engana. Protege.

Não sei exatamente que função você dá para as suas, mas uma coisa é certa: não deveria ser tão confortável assim fazê-lo.

Dizem os pais que às vezes "é pro seu bem". Dizem os namorados que "foi pra lhe poupar". Dizem os chefes que "faz parte do negócio". Em suma, a gente sempre acha que as nossas mentiras têm motivações mais nobres do que as dos outros, que são imperdoáveis e serão punidas no purgatório.

Eu não sou fã da hipocrisia que ronda o assunto, tampouco tolero a "marvada", mas atire a primeira pedra quem nunca lançou mão deste recurso, ou quem nunca se culpou, mesmo que por míseros instantes, protegido pela máscara da boa intenção.

Tem sempre um "eu só omiti" ou um "era óbvio, eu não precisava dizer". Esses são os piores. É que nem parodiar a palavra "mentira" com "faltar com a verdade". Eufemismos dignos dos piores... ou dos melhores, nesse caso.

Não vou mentir, dá preguiça esse assunto.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Verdade.

Meu maior drama: desconfio que as pessoas se intimidam ao me falar a verdade.

Ah, se eles soubessem... o quanto eu valorizo isso, o feedback.
Acredito - e já falei isso em outras ocasiões textuais - que o melhor de nós, da nossa amizade ou do nosso amor por alguém mora na crítica.

Essa malfalada provoca, faz crescer. Essa pobre estigmatizada eleva o sarrafo - e há quem tema, com pavor indescritível, essa fala. Por que? Palavras como fratura exposta... verbetes como tapas? Nada disso. Há maneiras e maneiras de faze-lo.

Seja construtivo e corajoso.
Aliás, verdade e coragem são antônimos no meu conceito.

Suas palavras dirigidas a quem você considera são uma das mais generosas provas de amor.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Velha e repetida.

Eu já estou muito velha para certos factóides da vida. É engraçado isso, porque não me sinto assim sempre e tampouco do ponto de vista cronológico, mas esse negócio de começar a pagar as contas muito cedo deixa a pessoa meio "gasta".

É como se a gente aprendesse ou se acotumasse a queimar etapas na vida, então tudo parece mais líquido, menos travado, mais intenso, e nem todo mundo tem vocação e paciência pra compartilhar desse ritmo com você. É que nem pular o brainstom e ir direto para o insight: tá na cara que o criativo vai te olhar torto. É como apresentar o sujeito como futuro marido para os seus pais e acompanhar aquela expressão de interrogação, prova de que essa estranheza não é privilégio de faixa etária nenhuma.

Novos ou velhos, esses personagens encantadoramente acelerados acham tudo isso muito natural. Numa fração de segundos, dias ou meses, dependendo do grau de complexidade, a gente já analisou, criticou, entendeu, decidiu e fez. E, normalmente, já envolveu os protocolares e processuais nas nossas teias da objetividade, seduzidos e entregues a essa volúpia.

E isso se repete, independente do interlocutor envolvido. A gente não aprende, a gente é assim. E a gente se repete - nos erros e nos acertos. Confesso que são mais acertos, porque já que o mundo está repleto de seres sem iniciativa, a gente acaba dando uma acelerada gostosa nas coisas. Até os mais tranquilos se deixam levar, se divertem até.

Acho que deve ser divertido mesmo. Afinal, a gente não tem culpa. A gente é intenso porque, por alguma razão, as coisas na vida se encaminharam assim. Para mim, parece que deu certo... até meu pai já sente falta do brainstorm.


quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Falta.

Ontem faltou alguma coisa no peixe. No tempero, não sei dizer o que.
Quando isso acontece ao fogão, dá uma sensação parecida como na vida. Não dá pra "faltar" alguma coisa.

O sabor nunca pode ficar devendo, ficar quase. Como quando a gente começa um projeto espetacular no trabalho e não consegue acabar. Como quando um amigo precisa de ajuda e a gente só consegue ligar. Ou "postar" um carinho no aniversário.

É como flor que não brota.
Férias com chuva.
Namoro sem dor de estômago.
Êxito sem parabéns.
Gato sem unhas.
Vinho jovem em taça de vidro.
Música baixa.
Luz alta.

Nada pior do que o insosso.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Dúvida.

A dúvida é a mãe da cagada.
Desculpem, eu não costumo usar termos de baixo calão neste que vos fala, mas não encontrei terminologia mais perfeita e com adequada contundência para expressar o meu ponto.

Admito que não há como fugir dela. Nem sempre aparece na sua frente um oráculo munido de todas as respostas. Aprendamos, então, a lidar com ela.

A certeza é forte. Uma loira alta, voluptuosa. Em seu peito, paira a tranquilidade, a segurança, a luz do saber - independente se o veredicto é negativo ou positivo. Ésquilo acorrentou Prometeu porque ele tentou levar o conhecimento inexorável dos Deuses aos mortais - olha no que deu.

A dúvida é a tábua solta da ponte. Incomoda, perturba, falseia. Deixa o cidadão vulnerável e propenso as atitudes mais tolas. Melhor não tê-la, mas se não tê-la, como sabê-la, já hipotetizava o poeta.

Essa nossa obsessão pela certeza é o que torna a dúvida tão nociva. Um perigo diante da pressa do ocidental por respostas. Queremos sempre estar no controle... bobagem. Aproveite o estímulo cerebral e pergunte ao seus poros, às pontas das sua orelhas e aos seus fluidos corporais qual a resposta certa. E não conte a ninguém.


quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Chuva e sol.

Não se pode gerenciar o clima, assim como as vezes não se pode gerenciar a si mesmo.
Em tempos de caos atmosférico e camadas de ozônio relutantes, no mesmo bairro, chove num canto e faz sol em outro, incontrolável, imprevisível.

"Tempo maluco!" já dizia o meu pai.
"Gente maluca!" grito eu, pasma.

Assim como nas intempéries, nas pessoas. No mesmo ser humano pode chover e fazer sol. Incontrolável e imprevisível.