segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

A volta dos que foram.

A volta do Ronaldo ao futebol brasileiro representou muito mais do que uma negociação milionária, um evento midiático ou o prenúncio de uma aposentadoria. Ronaldo estabeleceu um novo paradigma na indústria desse esporte, e atrás dele vieram e virão outros.

Parece que agora é possível ter uma carreira notória e financeiramemte interessante jogando em clubes brasileiros. Veio Ronaldo, depois de um período ruim, novas contusões e férias altamente calóricas. Veio depois o Imperador, deprimido, saudoso, com uma dose interessante de rebeldia infantil, daquela que bate os pés no chão e cruza os braços beiçuda, dizendo "não, não e não!". Veio Roberto Carlos, lá de longe, dar as mãos ao parceiro no Corinthians. Como duas comadres que se cruzam no supermercado, e uma recomenda pra outra uma nova e excelente marca de requeijão light - experimentei e gostei! Agora parece que vem o Robinho, que nunca gostou do City, mas sempre teve um bom pai-empresário para fazer negócios.

Cada um com seus motivos - financeiros, passionais, antropológicos. O importante é que iniciou-se uma safra de retornos que devolveu ao futebol deste País uma audiência que tínhamos perdido há tempos. Obviamente, a decolagem das carreiras ainda está intimamente associada ao desejo que o novo talento desperta nos clubes europeus ou nos emergentes orientais do petrodólar e, isso, a gente ainda vai aceitar por bastante tempo. Certo também que uma relativa maturidade - profissional e afetiva - se faz necessária nesse tipo de escolha, afinal é bem mais difícil glamourizar esse retorno. Faz parte e o nosso futebol só tem a ganhar.

Rafael Sóbis, que anda rodeando o Beira-Rio, sempre foi muito maduro no meu conceito...


terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Crítica culinária.

A partir de hoje esse blog será um excelente meio de divulgação de ótimas e descomplicadas receitas culinárias. Não quero mais falar de futebol, da situação sócio-econômica do Brasil, da Índia e suas tecnologias que melhoram a vida dos pobres, tampouco sobre o papel das mulheres no complexo contexto urbano economicamente ativo.

Dicas e receitas são um meio mais leve de se relacionar com o público e emitir opiniões, afinal se a cara do chuchu estiver ruim ou a laranja estiver sem suco, ninguém vai se importar. Eu nunca vi, por exemplo, um programa de culinária reclamar do preço abusivo do filé de salmão ou do azeite de oliva. Viram? Uma problemática inflacionária a menos para ocupar a cabeça, além da vantagem de que anuros não são das minhas carnes favoritas.

Cozinhar é uma arte, e prover o alimento aos queridos é quase um ato sagrado, sem contar que é extremamente prazeroso ouvir o silêncio à mesa. Lindo demais falar de comida, de cores e sabores, ao invés de aborrecer-se na tentativa de criticar o mundo e o seu curso, na esperança de fazer alguma coisa mudar. Tolice! Muito mais profunda é a polpa do maracujá que vira um molho irresistível. Muito mais consistente é a combinação do brie com a pêra, envoltos pela folha de rúcula bem verdinha.

Afora a filosofia, a cozinha tornou-se uma pauta extremamente democrática nos últimos anos. Homos e heteros harmonizaram esse conteúdo com uma boa garrafa de vinho chileno e transformaram a cozinha num lugar social da casa. O que pode nos levar a uma profunda reflexão existencial sobre a necessidade básica de alimentar-se, da qual milhares de pessoas são privadas no mundo inteiro... ops. Quase engasguei... molho picante demais.

Bobagem! Não há diferenças sociais entre legumes e tubérculos, muito menos entre peixes e aves - ambos têm a carne branca e tomam hormônios para parecerem mais saborosos e carnudos aos nossos olhos. Existe muito mais fair play no universo gastronômico. Tem espaço para maçãs verdes e vermelhas nas saladas mais deliciosas.

Talvez haja brechas para se discutir a escalação da receita - troque a batata por aipim ou adicione maisena para engrossar o caldo. Sempre tem um elemento que pode fazer a diferença no resultado, mesmo entrando aos quarenta e cinco do segundo tempo. Obviamente que o chef precisa ser um cara de visão, articulado, que conheça bem os ingredientes, os seus pontos fortes e como cada um se combina e joga junto na busca do resultado.

Tem alguns por aí com montes de ingredientes bem selecionados no banco, mas que deixam uma pimenta do reino na reserva quando o adeversário eh um lindo filé de peixe, de postas brancas e altas. Obtusos e óbvios, retranqueiros e fãs de um espetáculo insosso, sem ousadia, sem um pimentão colorido ou um punhado de nozes pecan dando crocância à mastigacão.

Falar de culinária também é uma atitude sustentável. Eu gastaria bem menos fosfato em minhas sinapses tratando desse assunto e, portanto, meu footprint de carbono seria mais auspicioso em 100 ou 150 anos, representando uma enorme contribuição para as futuras gerações.

Enfim, até este nono parágrafo eu só consegui elencar vantagens nesse novo direcionamento estratégico, e sequer citei o nome de algum time ou fiz uma crítica a algum modelo social despautérico ou atitude machista condenável. Espetacular.

Na semana que vem, frango ao limão... siciliano, que é mais docinho.




sábado, 2 de janeiro de 2010

Esperança.

Esperança é a palavra de ordem de toda passagem de ano. Renovamos as promessas, as expectativas, sempre pensando em melhorar, evoluir, até mesmo mudar o que não aceitamos. Desde começar uma simples dieta ou sucumbir aos apelos da academia, até construir ou destruir relacionamentos, assumir dívidas, mudar de cidade, de País. A virada de ano exerce sobre nós um poder de transformação, de motivação. Como se a gente ganhasse de uma fada uma varinha mágica plug-and-play de fácil utilização que nos fizesse acreditar que, agora sim, seremos capazes de correr atrás disso ou de fazer aquilo o que prometemos há tempos. Esperança é o combustível, a bateria recarregável e poderosa que a faz tilintar a cada novo querer.

Dizem que esse comportamento positivo é bastante típico dos povos dessas bandas. Acho que é a incidência do sol e a proximidade dos trópicos, mas isso é outro assunto. Auxiliado por esse modus operandi natural, o ano de dois mil e dez tem outras vantagens competitivas - sonoras, estéticas e estatísticas, eu diria. É um ano redondo, cujo decimal está sempre associado à êxito, sucesso, nota máxima. Além disso, veio logo em seguida de um 'zero nove' em que demonstramos a nossa força econômica e saímos (quase) ilesos de uma crise mundial que blablabla todo mundo sabe dessa história. Isso sem falar de Copa, Olimpíada, do pré-sal, do Cesar Cielo, de Copenhague.

O Brasil vai ganhando relevância e nós vamos abastecendo nossos bolsos de esperança, aquela cossegazinha que deixa as coisas mais interessantes, as vitórias mais doces e uma frustração que ajuda a querer fazer melhor na próxima vez. Esperança faz brilhar o olhos e dilatar as pupilas mais interessadas. Esperança não é de quem espera, é de quem deseja, saliva, adoece, treme e é isso o que a chegada de um novo ano faz com a gente - renova, recarrega as nossas tremedeiras.

A esperança leva a gente mais longe.