terça-feira, 9 de março de 2010

Sartre.

Cada vez que eu releio Sartre eu adapto seus pensamentos a um determinado momento de vida, mas, em geral, ele sempre me parece correto e convergente aos meus conceitos puros.

Aqueles que eu não consigo fazer ninguém compreender, ele compreende.

Inventei de reler a Crítica da Razão Dialética e, página a página, acho a sua reflexão cada vez mais contemporânea, atualíssima. Como pode? Filosofia, ao contrário do que pensa a maioria, não é uma atividade contemplativa de quem não tem o que fazer. É um organismo vivo com o polegrar sobre o pulso da gente. Atemporal, atravessando gerações até se deparar com nossos modernismos que, de fato, têm a mesma raiz problemática de séculos atrás.

Adoro bater papo com ele. Me faz sentir imortal.


segunda-feira, 8 de março de 2010

Ah, o Dia da Mulher...

Quero começar agradecendo aos meus amigos fofos, que me enviaram mensagens lindas e carinhosas sobre esse dia. Ganhei até flores do meu amor, mas não sei se as mereço. Me pergunto o que temos feito para ter direito a tais regalias.

Dia oito, dia redondinho. Há alguns anos algumas amigas nossas deram a vida por uma causa e, de lá pra cá, sinto que só fizemos envergonhar essa crença, esse projeto. Naquela época, a mulherada ganhava muito menos, trabalhava muito mais, era escrava da casa e dos filhos e ainda tinha que sorrir. Vinha tudinho escrito em um manual de instruções que se aprendia desde criança, anotado nas costas das mães, com recomendações, páginas dobradas e frases achuradas.

Hoje, somos livres [sic!] como dizem as minhas amigas. Independentes, autosuficientes. Deusas de cabelos esvoaçantes em alta velocidade rumo a, nada mais, nada menos, do que o topo. E como tudo na vida evolui, se transforma, se moderniza, nosso jugo agora também é outro. A senzala contemporânea não tem nome, endereço, CPF e muito menos, paga as nossas contas. Somos verdadeiras escravas de um ser invisível, intangível chamado estereótipo.

A barriga chapada aliada à medicina ortomolecular: ode em lá menor para os nossos ouvidos. Somos escravas, em módulo velado, de tudo o que queremos e precisamos nos tornar para sermos simplesmente aceitas - por nós, pelos outros, pelas outras. O estilista do momento, o restaurante mais bacana, o sucesso na reunião, filhos poliglotas, primeiros na lista da medicina. Deixe de lado o descanso, a rede, a preguiça, o capuccino e outras auto-indulgências. Compita com o seu marido para ver quem ganha mais e fique solteira aos 35 anos. Malhe até morrer para namorar um rapaz de 28, mas saia de casa feliz da vida com a sua Land Rover e a sua bolsa de crocodilo falsa - porque a de verdade agride os seus princípios sustentáveis.

O cobertor que a gente ganhou da vida não tapa a cabeça e os pés ao mesmo tempo - há de escolher o que aquecer primeiro ou encolher-se sob ele. Seja uma profissional brilhante, faça o sonho da maternidade esperar e ature os olhares de reprovação de pai, mãe e marido ad eternum. Seja uma mãe dedicada, apontada pra sempre por não ter "decolado" na profissão. Quem sabe se nos permitirmos tomar as decisões sozinhas, consigamos fazer algumas dessas coisas juntas... e assim eu mereça, um dia, não precisar receber flores ou parabéns para me sentir uma mulher invencível, dessas que a gente vê nos filmes da Meryl Streep ou da Susan Sarandon.

Meninos, obrigada. Vocês cumpriram com maestria o seu papel - de estimuladores, românticos, doces. Quem precisa lutar muito para romper alguns grilhões ainda somos nós.