sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Fábula esportiva moderna

Eu tenho lido muito ultimamente sobre o Brasil sortudo, que vai hospedar os dois maiores eventos esportivos do Planeta em um intervalo de apenas dois anos. Isso não é sorte - temos mesmo um ótimo produto, fomos bem assessorados e estamos na crista da onda dos emergentes. Fabuloso.

Obviamente sei que nem tudo são flores - principalmente aqui, no médio-mundo capitalista verde-e-amarelo. Ainda tem muita gente com fome, sem escola, sem hospital, mas ainda tem muita gente sem informação e sem um pingo de visão de médio prazo. Eu aceito ouvir de um trabalhador analfabeto uma crítica pessoal com menos profundidade, afinal de contas ele é o produto de uma sociedade que o discrimina em seus mais básicos direitos. O que me tira do sério é a crítica do classe-média míope com curso superior, tentando parecer um socialista politizado com suas malidicências duras.

Explico e descrevo seus pensamentos de forma muito mais eloqüente, porém muito menos impiedosa (não consigo tal façanha). Esse "serzito" torna pública a sua crença na enorme injustiça social que será cometida nos próximos anos, onde bilhões serão investidos em estádios de futebol, quadras poliesportivas, centros de treinamento, estradas, calcadas e internet sem fio. Enquanto o gringo acessa a web em praça pública, os filhos das nossas mulheres brasileiras pedem esmolas no sinal. Enquanto Seleções de países onde nunca se viu um sem-teto bailam em nossos gramados novinhos, a violência assombra as famílias de bem.

Esse sujeito-beta obtuso está embalado por um racional muito simples e simplório, sem perceber o mar de oportunidades que ele mesmo pode começar a aproveitar - aprenda inglês, meu amigo, assim dá pra criticar em dois idiomas, sendo que um deles vai elevar ainda mais a sua audiência polêmica. Na sua concepção frugal de movimento econômico sustentável, a cesta básica é um dos investimentos de maior retorno do momento.

Tem, sim, muita coisa a ser feita. E os brasileirinhos estão com a faca, o queijo e a goiabada nas mãos para fazer uma boa parte desse enorme movimento acontecer - um divisor de águas para os nossos valores como sociedade, para estarmos inseridos no cosmos de forma relevante, não somente por causa do Caetano ou da nossa água-de-côco (com perdão pela quase redundância entre os exemplos).

Enjoy it! Ou não...