terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Crítica culinária.

A partir de hoje esse blog será um excelente meio de divulgação de ótimas e descomplicadas receitas culinárias. Não quero mais falar de futebol, da situação sócio-econômica do Brasil, da Índia e suas tecnologias que melhoram a vida dos pobres, tampouco sobre o papel das mulheres no complexo contexto urbano economicamente ativo.

Dicas e receitas são um meio mais leve de se relacionar com o público e emitir opiniões, afinal se a cara do chuchu estiver ruim ou a laranja estiver sem suco, ninguém vai se importar. Eu nunca vi, por exemplo, um programa de culinária reclamar do preço abusivo do filé de salmão ou do azeite de oliva. Viram? Uma problemática inflacionária a menos para ocupar a cabeça, além da vantagem de que anuros não são das minhas carnes favoritas.

Cozinhar é uma arte, e prover o alimento aos queridos é quase um ato sagrado, sem contar que é extremamente prazeroso ouvir o silêncio à mesa. Lindo demais falar de comida, de cores e sabores, ao invés de aborrecer-se na tentativa de criticar o mundo e o seu curso, na esperança de fazer alguma coisa mudar. Tolice! Muito mais profunda é a polpa do maracujá que vira um molho irresistível. Muito mais consistente é a combinação do brie com a pêra, envoltos pela folha de rúcula bem verdinha.

Afora a filosofia, a cozinha tornou-se uma pauta extremamente democrática nos últimos anos. Homos e heteros harmonizaram esse conteúdo com uma boa garrafa de vinho chileno e transformaram a cozinha num lugar social da casa. O que pode nos levar a uma profunda reflexão existencial sobre a necessidade básica de alimentar-se, da qual milhares de pessoas são privadas no mundo inteiro... ops. Quase engasguei... molho picante demais.

Bobagem! Não há diferenças sociais entre legumes e tubérculos, muito menos entre peixes e aves - ambos têm a carne branca e tomam hormônios para parecerem mais saborosos e carnudos aos nossos olhos. Existe muito mais fair play no universo gastronômico. Tem espaço para maçãs verdes e vermelhas nas saladas mais deliciosas.

Talvez haja brechas para se discutir a escalação da receita - troque a batata por aipim ou adicione maisena para engrossar o caldo. Sempre tem um elemento que pode fazer a diferença no resultado, mesmo entrando aos quarenta e cinco do segundo tempo. Obviamente que o chef precisa ser um cara de visão, articulado, que conheça bem os ingredientes, os seus pontos fortes e como cada um se combina e joga junto na busca do resultado.

Tem alguns por aí com montes de ingredientes bem selecionados no banco, mas que deixam uma pimenta do reino na reserva quando o adeversário eh um lindo filé de peixe, de postas brancas e altas. Obtusos e óbvios, retranqueiros e fãs de um espetáculo insosso, sem ousadia, sem um pimentão colorido ou um punhado de nozes pecan dando crocância à mastigacão.

Falar de culinária também é uma atitude sustentável. Eu gastaria bem menos fosfato em minhas sinapses tratando desse assunto e, portanto, meu footprint de carbono seria mais auspicioso em 100 ou 150 anos, representando uma enorme contribuição para as futuras gerações.

Enfim, até este nono parágrafo eu só consegui elencar vantagens nesse novo direcionamento estratégico, e sequer citei o nome de algum time ou fiz uma crítica a algum modelo social despautérico ou atitude machista condenável. Espetacular.

Na semana que vem, frango ao limão... siciliano, que é mais docinho.




Um comentário:

Anônimo disse...

E será que é tão boa com comida quanto é com futebol???
Bjo
Doc