quinta-feira, 23 de abril de 2009

Essa coisa de saudade

Muito louca essa coisa de saudade.
É uma dorzinha estranha, voluntária e com requintes - brandos - de crueldade.

Eu desenvolvi um método revolucionário de lidar com esse sentimento semi-devastador, uma técnica de sobrevivência muito funcional, em especial para aquelas pessoas que, como eu, afastaram-se do seu habitat natural em busca de algum tipo de cativeiro distante.

Me auto-sugeri a deixar a maldita se aproximar de mim somente quando estou na iminência de acabar com ela. Interessante mecanismo. De auto-defesa mais pura, pois não tem nada pior do que essa sensação. É um misto de raiva - pela impotência da distância ou de uma ruptura qualquer - e de prazer - pela possibilidade de rever as pessoas e viver com elas justamente aquelas experiências que fazem você sofrer por isso.

É simples, não requer prática nem habilidade (apesar da prática ser muito saudável, porque deixa você cada vez mais safo no assunto). E, diferentemente do que alguns devem estar pensando ao lerem essas linhas, tampouco se trata de disseminar metodologias mercantilistas, frias e comerciais para lidar com sentimentos nobres difundidos pelo mundo a partir da queda do muro de Berlim, da união entre os povos e da democratização das fronteiras comerciais entre as nações - afinal, até o Obama perdoou os cubanos. 

Não sou apologista dos organismos cibernéticos de coração indestrutível, mas enquanto eu puder, hei de me defender, de me poupar. Vejo só o lado delicioso do assunto. Só penso na parte ruim quando a parte boa está me esperando no aeroporto com igual sentimento.

É uma forma apropriada de categorizar os sofreres. Coloque-os em diferentes caixinhas, feche-as e abra somente quando solicitado no guichê. É o mesmo que acontece quando estamos apertadíssimos para fazer xixi: quanto mais pertinho do banheiro, pior fica a dor do aperto, não?. Abrindo o ziper, baixando a calça... antes disso, procuramos nem pensar que existe uma bexiga compondo o sistema urinário humano e, muito menos, que ela está gritando daquele jeito ensurdecedor. Depois, o único residual  de todo esse processo traumático é aquela sensação deliciosa - alívio, conforto.

Viu só? Um exemplo cotidiano que desmitifica a técnica - você tambêm faz isso e nem sabia.

Ah, esse meu lado direito do cérebro... sempre obrigando meu lado esquerdo a trabalhar.



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