quinta-feira, 15 de abril de 2010

Meus homens.

Há exatos vinte anos, o mundo ficava mais bege.
Menos inteligente.
Menos esperto.
Menos autêntico.

J.P. se foi sem nem esperar que eu pudesse aprender a falar. Nem um balbucio sequer. E hoje eu tenho tanto a dizer, a perguntar e a discordar - por que não?

Das poucas certezas que eu tenho na vida, as mais tristes dizem respeito aos homens com quem eu nunca vou ter a chance de trocar uma palavra, já que eles resolveram nascer em décadas tão anteriores à minha. E não há nenhum conteúdo edipiano nessa sentença.

É triste saber que jamais terei a oportunidade de ser seduzida por tais olhos azuis, de voz doce e trejeitos encantadoramente marotos. Sinatra é o líder implacável da minha viuvez mais sensorial, mais sensível. O #1 da categoria "eventos românticos que nunca acontecerão".

Não menos importante e provocante, Andy Warhol. Esse jamais tentaria me seduzir, no máximo elogiaria os meus sapatos. E, com suas colocações absolutamente desprovidas de qualquer censura, ruborizaria até as bochechas mais carazinhenses do meu rosto sardento. Mal-criado, atrevido. Exemplar clássico do sincericida que não temia a morte e não usava capacete. Me deixou sem nem um bilhete.

Ah, J.P... se tu soubesses o quanto eu te sou grata, daria um sorrisinho. O cara mais moderno que o século XX produziu. Um bule de chá e eu já ficaria satisfeita. Muda e satisfeita. Extasiada, muda e satisfeita. Comovida. Se a existência é anterior à essência, se primeiro somos, para depois nos definirmos, quero mais um tempo pra ler, porque esse chá, pleo visto, foi adiado até segunda ordem.

Um único pedido: Mandela, dá pra esperar mais um pouco? Eu ainda não estou pronta pra ti. Canja de galinha e exercícios, por favor.


3 comentários:

Anônimo disse...

Existe espaco pra alguma mulher nessa lista de pessoas interessantes?
Bjo
Doc

Fernanda Graeff disse...

Existiria, mas mulheres geniais não se elogiam entre si. Já ouviu falar da Coco Chanel fazendo graça pra alguma coleguinha????
Falando sério agora, o texto era só pros rapazes mesmo. Num próximo capítulo, Simone de Beauvoir e suas amigas.

Sabe bem de quem se trata disse...

Existe sim um sujeito de carne e osso, vivendo nesse presente tempo e espaço que faz toda a diferença na sua vida. Ele esta longe agora mas nunca quis estar tão perto.