quinta-feira, 2 de outubro de 2008

amar, mal amar, desamar.

Para começarmos bem essa conversa, alguns esclarecimentos: não se trata de um texto de auto-ajuda, também não é um manifesto feminista – esse artigo é uma crítica. Quanto ao verbo sofrer, atenção: ele não está empregado como um último sopro de alguém à beira do suicídio. É uma simples hipérbole que me pareceu adequada ao contexto (além de ter deixado a idéia bem sonora durante a leitura).

Vamos expor os fatos sem medo de interpretações ou retóricas: amar é uma coisa ótima, faz bem pra pele e não provoca dor ou sofrimento. Suspendam delicadamente a camisa de força e prestem bem atenção nessa nossa infinita dialética.

As pessoas – em especial os seres do sexo feminino – não sofrem e jamais sofrerão por amar. Sofrem por causa das injustiças que cometem aqueles que dizem amar. Amar é um fato. Eu amo fulano e disso independe qualquer outra coisa. Amar está para si assim como um objeto que se basta sozinho - como uma mesa, uma cadeira, um lápis. Não é como uma lâmpada, que precisa de energia elétrica; ou como um prego, que precisa de parede. Amar é um objeto que cumpre a sua função sem precisar de complemento. Não, não é preciso ser amado para amar. Amar é um objeto solitário, independente, auto-suficiente. E ninguém sofre por causa dele. Amar é lindo. Amar traz alegria, traz sorrisos, traz frio na barriga. O amar se basta. Quando a gente tem um amar, a gente só consegue ser feliz. O problema é quando a gente transforma o amar em lâmpada ou em prego - aí dá zebra. A gente sofre mesmo, mas não é por causa do amar, mas sim porque o complemento que a gente inventou de colocar na história não soube ser parede para o nosso prego.

O ser humano sofre porque tem coisas que a gente insiste em fazer, sabendo que não vão funcionar. Tipo ligar uma lâmpada 110v numa rede 220v. É óbvio que ela vai sobrecarregar e acabar queimando. Ou tentar colocar um prego numa parede de isopor. Ele até fica ali, parado, mas não vai servir pra pendurar nada.

Eu admiro de verdade as pessoas que ficam juntas por anos e anos, e permanecem assim por todos os tempos. As pessoas se toleram, entende? Elas sabem se ler, sabem se complementar, e isso só pode ser um talento. As pessoas sofrem por causa do complemento. Porque está escrito que lâmpada sem energia não serve pra nada; que prego sem parede não tem utilidade. Então, de que adianta o amar sem o infernal complemento? Amar cadeira não vale. Amar prego, sim, é isso? Então por que o amar prego é o que vale, se ele precisa de complemento, que é o agente do sofrer?
Sofra por causa do complemento e continue a retórica.

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