(continuação)
b) Primeiro jantar: a mulherzinha profissional pede ao cara que a busque em casa. Na hora marcada, não esteja pronta jamais – demore uns 10 minutos a mais e deixe o cara na sala batendo papo com uma amiga sua que não esteja disfarçada de mulherzinha. Isso vai mostrar ao rapaz que, mesmo em se tratando de uma simples amiga, você tem alguém esperto zelando pelas suas possíveis burrices e leviandades. Espere que ele abra a porta do carro, mas sem ele perceber que você espera por isso – hoje em dia isso soa até meio careta, mas daí já da pra tirar uma temperatura do nível do sujeito. No carro, perninhas cruzadas, bolsa no colo – cuidado com a neurolinguística. Fique observando o cara enquanto ele fala sobre a surdina esportiva do carro e mostre alto interesse - desculpe, é com esse tipo de cara que mulherzinha sai. Sempre sorrindo, achando o papo legal e dando gargalhadinhas delicadas para mostrar seus belos dentes quando ele falar algo que, mesmo que não tenha muita graça, tenha tido a intenção de te fazer rir. Durante o jantar, nunca se dirija ao garçom – deixe que ele o faça por você. Levante ao menos uma duas vezes para ir ao banheiro, mas não demore muito pra ele não achar que você faz número 2 como qualquer outro mortal – mulherzinha é tão perfumada que não faz isso. Nunca, jamais, em hipótese alguma e nem sob um decreto divida ou pague a conta. Se você for muito esperta, se ofereça por educação, de uma forma que a única resposta possível do cara seja “imagina, gatinha” – assim você valoriza a condição de macho dominador da situação, que banca uma jantinha no Steinhauss ou no Ganesh e acha que tá abafando.
(continua na semana que vem)
sexta-feira, 24 de outubro de 2008
sexta-feira, 17 de outubro de 2008
minissérie periódica e imperdível - capítulo 1
Vou aproveitar esse espaço semi-público elitista magnífico para reviver algumas linhas memoráveis que escrevi no passado recente - O Estatuto da Mulherzinha de Catálogo, um guia prático da mulher moderna.
Este documento foi desenvolvido com base em um sério estudo antropológico, cruzando os comportamentos e preferências de homens do sexo masculino e mulheres do sexo feminino, e, principalmente, nas vivências pessoais de mulheres que não são mulherzinhas de catálogo. Para tanto, os itens a seguir podem sofrer adaptações conforme o caso. Faça analogias que sejam adequadas ao seu perfil comportamental e aprenda regras básicas que você precisa seguir para não sobrar pra titia ou não ser eternamente a amante do cara que você gosta.
1. Comportamento-padrão: as mulherzinhas em geral apresentam uma estrutura comportamental muito pouco complexa, quase unicelular, acessível ao domínio de qualquer outro ser mulher. Vale à pena contextualizar e analisar os casos isoladamente, a fim de atentarmos aos pontos mais particulares dos movimentos das mulherzinhas, conforme abaixo:
a) Locais públicos: a troca de olhares e aquelas mexidinhas estratégicas nos cabelos são superdesejadas para promover a aproximação. Quando rolar o diálogo, fale de vez em quando e, de repente, mas com toda a calma, solte uma frase de efeito do tipo constatação: “pesquisadores de uma conceituadíssima universidade anglo-saxônica comprovaram que comer alface provoca uma sensação interessante de apatia e relaxamento nas pessoas”. Atente: a informação é absolutamente ignóbil, mas o grande segredo está na forma como a frase foi construída. Ele ficará impressionado com a sua eloqüência e ao mesmo tempo não se sentirá ameaçado pela sua inteligência, afinal todo mundo sabe dessa historinha lúdica do alface.
Adendo 1: se ele não souber de onde pode vir a ser uma Universidade anglo-saxônica, retire-se imediatamente usando aquela velha desculpa do banheiro – você é mulherzinha (ou ao menos está tentando ser uma), mas isso não quer dizer que vai dar mole pro primeiro bonitinho incauto que aparece;
(continua na próxima semana)
Este documento foi desenvolvido com base em um sério estudo antropológico, cruzando os comportamentos e preferências de homens do sexo masculino e mulheres do sexo feminino, e, principalmente, nas vivências pessoais de mulheres que não são mulherzinhas de catálogo. Para tanto, os itens a seguir podem sofrer adaptações conforme o caso. Faça analogias que sejam adequadas ao seu perfil comportamental e aprenda regras básicas que você precisa seguir para não sobrar pra titia ou não ser eternamente a amante do cara que você gosta.
1. Comportamento-padrão: as mulherzinhas em geral apresentam uma estrutura comportamental muito pouco complexa, quase unicelular, acessível ao domínio de qualquer outro ser mulher. Vale à pena contextualizar e analisar os casos isoladamente, a fim de atentarmos aos pontos mais particulares dos movimentos das mulherzinhas, conforme abaixo:
a) Locais públicos: a troca de olhares e aquelas mexidinhas estratégicas nos cabelos são superdesejadas para promover a aproximação. Quando rolar o diálogo, fale de vez em quando e, de repente, mas com toda a calma, solte uma frase de efeito do tipo constatação: “pesquisadores de uma conceituadíssima universidade anglo-saxônica comprovaram que comer alface provoca uma sensação interessante de apatia e relaxamento nas pessoas”. Atente: a informação é absolutamente ignóbil, mas o grande segredo está na forma como a frase foi construída. Ele ficará impressionado com a sua eloqüência e ao mesmo tempo não se sentirá ameaçado pela sua inteligência, afinal todo mundo sabe dessa historinha lúdica do alface.
Adendo 1: se ele não souber de onde pode vir a ser uma Universidade anglo-saxônica, retire-se imediatamente usando aquela velha desculpa do banheiro – você é mulherzinha (ou ao menos está tentando ser uma), mas isso não quer dizer que vai dar mole pro primeiro bonitinho incauto que aparece;
(continua na próxima semana)
quarta-feira, 8 de outubro de 2008
Parece comigo
Esses dias alguém me disse que vê direitinho,estampadas e escarradas, algumas situações que eu já vivi descritas nos meus textos. Deixo claro que é verdade, porém nomes, datas e alguns fatos são alterados para preservação dos seres citados - ou mesmo para manter a minha integridade física, dependendo do conteúdo em questão. Concordei meio de revesgueio com a colocação - tentando me lembrar, naquele dito momento, se a pessoa que levantou o fato havia sido a feliz contemplada de alguma crítica ou ironia capciosa. Sabe-se lá.
Lembrei da Amy Winehouse - aquela mocinha inglesa de outro planeta que vem se auto-destruindo publicamente e que tem, como marca registrada de suas composições, uma dose cavalar de si mesma, de seus anseios, de suas frustrações, desejos, enfim. Tem muita Amy Winehouse nas músicas da Amy Winehouse, assim como tem alguma Fernanda Graeff nesses textos.
Obviamente a minha existência e trajetória não têm sido tão interessantes quanto as peripécias da roqueira supracitada, mas alguns fatos rendem bem uma estorinha. O ponto é que realmente eu levo uma vida comum - bem mais comum do que eu gostaria, mas nem tão comum quanto a minha mãe havia imaginado pra mim - a filha do meio, ainda na barriga - enquanto devorava uma caixa de bom-bons de cereja da Pan (pasmem, mas lá no interior ainda existe essa marca de chocolates).
Comum é aquilo que é igual pra todos. Um lugar público é um lugar comum - uma praça, uma igreja. Eu não acho nada estranho em querer ser uma pessoa-padrão, aquela que se encaixa perfeitamente em todos aqueles conceitos que não provocam nenhuma reação em ninguém. Ser comum é ser normal, dizem os comuns e normais da nossa convivência - vizinhos, parentes, amigos. Eles estão por todos os lados. Ser comum não tem nada de errado - e é esse o X da questão mesmo, sendo bem literal. Uma pessoa comum, teoricamente, não tem no errado uma possiblidade de ação, pois o fato de ela ser comum, igual a todos, dentro do padrão, não lhe permite nenhuma uma atitude passível de reprovação pelo demais comuns. Existe um código de conduta, um método de governança que rege as pessoas-padrão.
Fatalmente acabei trocando a narrativa para terceira pessoa. Juro que foi uma ação independente do meu hipotálamo primitivo, que raramente se manifesta com tal ímpeto. Porém, apesar de critica-lo por esse rompante - mudar a pessoa do texto aleatoriamente é um verdadeiro pecado literário - tendo a concordar com ele. Não que eu não seja um ser comum, mas escrevi de um jeito que me deu vontade de fazer uma careta pro vizinho, rejeitar o meu leite quente antes de dormir ou qualquer outra atitude rebelde ao melhor estilo Ms. Whinehouse.
Lembrei da Amy Winehouse - aquela mocinha inglesa de outro planeta que vem se auto-destruindo publicamente e que tem, como marca registrada de suas composições, uma dose cavalar de si mesma, de seus anseios, de suas frustrações, desejos, enfim. Tem muita Amy Winehouse nas músicas da Amy Winehouse, assim como tem alguma Fernanda Graeff nesses textos.
Obviamente a minha existência e trajetória não têm sido tão interessantes quanto as peripécias da roqueira supracitada, mas alguns fatos rendem bem uma estorinha. O ponto é que realmente eu levo uma vida comum - bem mais comum do que eu gostaria, mas nem tão comum quanto a minha mãe havia imaginado pra mim - a filha do meio, ainda na barriga - enquanto devorava uma caixa de bom-bons de cereja da Pan (pasmem, mas lá no interior ainda existe essa marca de chocolates).
Comum é aquilo que é igual pra todos. Um lugar público é um lugar comum - uma praça, uma igreja. Eu não acho nada estranho em querer ser uma pessoa-padrão, aquela que se encaixa perfeitamente em todos aqueles conceitos que não provocam nenhuma reação em ninguém. Ser comum é ser normal, dizem os comuns e normais da nossa convivência - vizinhos, parentes, amigos. Eles estão por todos os lados. Ser comum não tem nada de errado - e é esse o X da questão mesmo, sendo bem literal. Uma pessoa comum, teoricamente, não tem no errado uma possiblidade de ação, pois o fato de ela ser comum, igual a todos, dentro do padrão, não lhe permite nenhuma uma atitude passível de reprovação pelo demais comuns. Existe um código de conduta, um método de governança que rege as pessoas-padrão.
Fatalmente acabei trocando a narrativa para terceira pessoa. Juro que foi uma ação independente do meu hipotálamo primitivo, que raramente se manifesta com tal ímpeto. Porém, apesar de critica-lo por esse rompante - mudar a pessoa do texto aleatoriamente é um verdadeiro pecado literário - tendo a concordar com ele. Não que eu não seja um ser comum, mas escrevi de um jeito que me deu vontade de fazer uma careta pro vizinho, rejeitar o meu leite quente antes de dormir ou qualquer outra atitude rebelde ao melhor estilo Ms. Whinehouse.
quinta-feira, 2 de outubro de 2008
amar, mal amar, desamar.
Para começarmos bem essa conversa, alguns esclarecimentos: não se trata de um texto de auto-ajuda, também não é um manifesto feminista – esse artigo é uma crítica. Quanto ao verbo sofrer, atenção: ele não está empregado como um último sopro de alguém à beira do suicídio. É uma simples hipérbole que me pareceu adequada ao contexto (além de ter deixado a idéia bem sonora durante a leitura).
Vamos expor os fatos sem medo de interpretações ou retóricas: amar é uma coisa ótima, faz bem pra pele e não provoca dor ou sofrimento. Suspendam delicadamente a camisa de força e prestem bem atenção nessa nossa infinita dialética.
As pessoas – em especial os seres do sexo feminino – não sofrem e jamais sofrerão por amar. Sofrem por causa das injustiças que cometem aqueles que dizem amar. Amar é um fato. Eu amo fulano e disso independe qualquer outra coisa. Amar está para si assim como um objeto que se basta sozinho - como uma mesa, uma cadeira, um lápis. Não é como uma lâmpada, que precisa de energia elétrica; ou como um prego, que precisa de parede. Amar é um objeto que cumpre a sua função sem precisar de complemento. Não, não é preciso ser amado para amar. Amar é um objeto solitário, independente, auto-suficiente. E ninguém sofre por causa dele. Amar é lindo. Amar traz alegria, traz sorrisos, traz frio na barriga. O amar se basta. Quando a gente tem um amar, a gente só consegue ser feliz. O problema é quando a gente transforma o amar em lâmpada ou em prego - aí dá zebra. A gente sofre mesmo, mas não é por causa do amar, mas sim porque o complemento que a gente inventou de colocar na história não soube ser parede para o nosso prego.
O ser humano sofre porque tem coisas que a gente insiste em fazer, sabendo que não vão funcionar. Tipo ligar uma lâmpada 110v numa rede 220v. É óbvio que ela vai sobrecarregar e acabar queimando. Ou tentar colocar um prego numa parede de isopor. Ele até fica ali, parado, mas não vai servir pra pendurar nada.
Eu admiro de verdade as pessoas que ficam juntas por anos e anos, e permanecem assim por todos os tempos. As pessoas se toleram, entende? Elas sabem se ler, sabem se complementar, e isso só pode ser um talento. As pessoas sofrem por causa do complemento. Porque está escrito que lâmpada sem energia não serve pra nada; que prego sem parede não tem utilidade. Então, de que adianta o amar sem o infernal complemento? Amar cadeira não vale. Amar prego, sim, é isso? Então por que o amar prego é o que vale, se ele precisa de complemento, que é o agente do sofrer?
Sofra por causa do complemento e continue a retórica.
Vamos expor os fatos sem medo de interpretações ou retóricas: amar é uma coisa ótima, faz bem pra pele e não provoca dor ou sofrimento. Suspendam delicadamente a camisa de força e prestem bem atenção nessa nossa infinita dialética.
As pessoas – em especial os seres do sexo feminino – não sofrem e jamais sofrerão por amar. Sofrem por causa das injustiças que cometem aqueles que dizem amar. Amar é um fato. Eu amo fulano e disso independe qualquer outra coisa. Amar está para si assim como um objeto que se basta sozinho - como uma mesa, uma cadeira, um lápis. Não é como uma lâmpada, que precisa de energia elétrica; ou como um prego, que precisa de parede. Amar é um objeto que cumpre a sua função sem precisar de complemento. Não, não é preciso ser amado para amar. Amar é um objeto solitário, independente, auto-suficiente. E ninguém sofre por causa dele. Amar é lindo. Amar traz alegria, traz sorrisos, traz frio na barriga. O amar se basta. Quando a gente tem um amar, a gente só consegue ser feliz. O problema é quando a gente transforma o amar em lâmpada ou em prego - aí dá zebra. A gente sofre mesmo, mas não é por causa do amar, mas sim porque o complemento que a gente inventou de colocar na história não soube ser parede para o nosso prego.
O ser humano sofre porque tem coisas que a gente insiste em fazer, sabendo que não vão funcionar. Tipo ligar uma lâmpada 110v numa rede 220v. É óbvio que ela vai sobrecarregar e acabar queimando. Ou tentar colocar um prego numa parede de isopor. Ele até fica ali, parado, mas não vai servir pra pendurar nada.
Eu admiro de verdade as pessoas que ficam juntas por anos e anos, e permanecem assim por todos os tempos. As pessoas se toleram, entende? Elas sabem se ler, sabem se complementar, e isso só pode ser um talento. As pessoas sofrem por causa do complemento. Porque está escrito que lâmpada sem energia não serve pra nada; que prego sem parede não tem utilidade. Então, de que adianta o amar sem o infernal complemento? Amar cadeira não vale. Amar prego, sim, é isso? Então por que o amar prego é o que vale, se ele precisa de complemento, que é o agente do sofrer?
Sofra por causa do complemento e continue a retórica.
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