terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Romance.

Sempre achei engraçada aquela escrotíssima frase "Se você quer romance, leia um livro". De tão pendente, paira o hilário. Não sei quem a cunhou - possivelmente a sabedoria popular ou algum cantor contemporâneo - mas, há algo de verdadeiro nela.

As pessoas têm uma mania interessante de procurar adjetivos e explicações freudianas para os seus relacionamentos românticos. "Fulana é ótima, tem dentro de si uma complexidade quase singela". Para os homens temos "um misto de virilidade e sensibilidade raro de se ver".

Não sei que equilíbrio se pretende buscar com essas frases. Talvez nos romances elas pareçam soar bem, inteligentes, eficientemente descritivas para o leitor. Mas ao vivo, é como se tivéssemos a obrigação de transcrever verbalmente para o nosso interlocutor o que se passa com o casal, após profunda e complexa análise científica. Ou, pior, de nos convencermos que existe uma boa explicação para isso tudo.

Não existe "porque sim" ou "porque meu coração palpita"? Ou "porque meu coração parou de palpitar"? É lindo e honesto, mas simplório demais para a era do conteúdo. Para uma época em que todos nós precisamos nos inserir, sermos aceitos por aquilo o que carregamos dentro do cérebro.

Quem falando? A dona das grandes frases pernósticas e das relativizações mais desnecessárias está em protesto pela volta da simplicidade. Do tempo em que a gente dizia o que sentia, sem tanta sinapse.

Acho que merecemos ser arrebatados com mais frequencia.

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