quinta-feira, 25 de setembro de 2008

aniversário

Perto do aniversário, fico meio tonta. Ouço falar que os trinta dias anteriores à data em que comemoramos a nossa chegada oficial ao mundo são o período do famigerado “inferno astral”. Tenho refletido sobre as razões pelas quais o efeito desse período parece tão diferente pra mim.
Pelo fato de ser mulher e saber que o passar dos anos é um grande inimigo da minha categoria, eu deveria mesmo querer distância dessa comemoração – que, sob esse ponto de vista, deveria chamar-se fardo, castigo, moléstia ou maldição, menos comemoração. Estranha essa minha relação com o aniversário – agravada pelo fato de eu estar beirando a idade das musas de Balzac – já que em meados da data, fico feliz e contente, cantarolando, cabelo bom, pele boa. Ouso dizer que até o meu intestino fica mais dinâmico.

Elocubrações à parte, o benefício concreto do aniversário é o que, de fato, tem valor: amigos, telefonemas, presentes. As pessoas lembram-se de você e voltam suas atenções para o assunto – umas mais, outras menos, dependendo do grau de consideração sobre o aniversariante. Esse fenômeno simples faz com que essa pobre vítima da ação do tempo, da correria dos anos, da crueldade implacável das rugas e da hidrolipodistrofia sinta-se o centro de uma mobilização de pessoas que, reunidas, daria inveja até mesmo ao ilustre Bernardo Toro.

Ah, o aniversário. Essa efeméride, que ha alguns séculos era um costume pagão desprezado pelo catolicismo, tem o meu maior respeito e aderência. Saio contando para todos que a data se aproxima, convidando, motivando e oferecendo a um grupo de pessoas absolutamente diferentes a singela oportunidade de reverem os conhecidos, de conhecerem os desconhecidos, de se apaixonarem, de chocarem seus copos uns contra os outros pelas mais diversas razões, podendo vir a estabelecer entre si outros tipos de relações, catalogadas ou não pelo costume ocidental.

Voto sim pelo aniversário. Ele fecha um ciclo. Ele inicia outros ciclos que terão, na mesma data, um novo motivo para reunir. Celebrando ou chorando, o importante é ser memorável, é fazer diferença, é fazer alguém parar e pensar: é hoje. Aniversário é evento, no sentido mais amplo do termo, e eu só escrevi para lembrar que o meu está chegando.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

moral da história (2006)

Esses dias eu ouvi uma frase muito interessante (na TV, por mais incrível que isso possa lhe parecer) e é sobre ela que eu resolvi escrever hoje. O ator negro, recém saído da cadeia, detido durante algumas horas por causa de um surto de fúria, diz aos céus, diante do ator branco que pagou a sua fiança: “Deus, me dê forças para aceitar aquilo que eu não posso mudar”. Vamos tirar Deus da parada e desenvolver a respeito – questões religiosas estão muito além dos nossos domínios mundanos.

Ao longo dos 365 dias do ano, sem contar os bissextos, pra não atrapalhar a conta, e subtraindo as horas de sono, são inúmeras e incontáveis as vezes em que deveríamos apelar para essas forças ocultas em busca de serenidade. Para nos defrontarmos com pessoas, situações e competições escandalosas e, mesmo assim, ainda sermos aceitos no convívio social – regime semi-aberto ou focinheiras de couro sintético não serão aceitos como convívio social – precisamos lançar mão de subterfúgios interessantes, legais, ilegais, naturais, sobrenaturais ou paranormais, espirituais e até medicinais tarjados.

Como exercício, passei a repetir a frase em questão quase que diariamente pra mim mesma, como um tipo de mantra. Pensei até em tatuá-la de trás pra frente, é claro, para que o reflexo no espelho todos os dias de manhã seja suficiente para me auto-sugestionar e passar um dia mais conformado. Não, eu nunca cheguei nem perto de ser encarcerada pelos meus descontentamentos incontidos, mas vez por outra imagino cenas de horror e sangue, num misto de sarcasmo e impotência que quase me corrompe. Exageros engraçadinhos à parte, entoar o mantra é uma forma interessante e barata de nos mantermos longe das forças do mal.

Seu namorado pediu que você o aceite como ele é – não é romântico, não manda flores, não pratica aquelas pequenas surpresinhas que fazem você se sentir a melhor de todas, mas é honesto, generoso e lhe ama profundamente. Na noite do seu aniversário, fez uma pizza, abriu um Malbec de trinta reais e lhe disse, com a taça ao alto: “ao meu amor, que está de anos em festa”. Espero que você tenha se lembrado de evocar o novo mantra da mulher moderna. Se não sentiu necessidade, comunico que você está a dois passos à frente da média das mulheres na escala evolutiva. Parabéns. Por isso e pelo seu aniversário.

Seu colega de trabalho, teoricamente seu “par” nos objetivos comerciais da sua equipe, combinou de acompanhá-la à reunião com o novo cliente no seu primeiro dia oficial de trabalho. Ele sabe o caminho, você não, mas cedinho da manhã você está lá, plantada no local marcado, ainda com um sorriso, entusiasmada com seu primeiro dia de trabalho, apesar do atraso de quase meia hora do seu “par teórico”, que prometeu guiá-la. Ele aparece dizendo que vocês precisam correr para não se atrasarem e dispara na sua frente, ultrapassando o sinal vermelho de um simpático cruzamento. Nesse momento, a baladinha George Michael que você escuta no carro ganha um novo refrão: “forces... forces to accept, to acceeeeeeept... tiu-ru-ru...”.

Ta bom, ta bom. Diga pra mim que eu sou a única descompensada aqui! Faça-me crêr que você nunca visualizou um acontecimento terrível para aquela colega de trabalho módulo Barbie, que faz chapinha todos os dias, usa pó pra parecer bronzeada e deixa O Diário de Bridget Jones sobre a mesa, humilhando intelectualmente todos os seus colegas de setor. Um choque elétrico patrocinado pela Taiff seria mesmo inimaginável pra você? Talvez ela nem tenha lhe feito nada de mais, tirando a vez em que passou na sua frente na máquina de café e serviu para si a última dose de capuccino, ou quando ela votou pela extinção dos feriados prolongados na última assembléia dos funcionários porque não queria trabalhar 12 minutos a mais todos os dias para compensar as sextas e segundas-feiras emendadas. Poupe-me.

Pior do que a raiva manifesta é o descontentamento contido, latente, que fica na superfície, mas não chega a se projetar. Aquele que dá dor de garganta, que contrai os músculos e faz a gente suar – vou patentear essa idéia nas academias como uma nova técnica de emagrecimento com um nome oriental qualquer. A discordância, a discussão sem conclusão ou mesmo a “pé-esquerdice” de um dia qualquer podem levar o sujeito a visitar a sua Fossa das Marianas em segundos. Por isso, eu aconselho: evoquem a frase do ator negro que passou um dia no xilindró. Ele certamente teve tempo para refletir e chegar a uma sentença tão interessante e, porque não, eficaz.

E como todo texto precisa ter moral da história, eu vos digo e repito: você já está exercitando a nobreza de aceitar no momento em que se propõe a repetir a sentença milagrosa, portanto, deixe de ser trancado e aprenda a receber com mais entusiasmo os aprendizados que o próximo pode lhe oferecer, e de graça. Se não for possível, faça como eu: escreva a respeito. É terapêutico e ainda faz os amigos rirem.

mulheres (2003)

Para disputar uma vaga no selecionado rol das mulher que exigem demais, você necessita de alguns predicados. Ter a sua profissão e gostar muito dela – é fundamental você ser capaz de sobreviver fazendo aquilo que escolheu. Ter a sua casa, mesmo que alugada, as suas coisas, o sofá que você escolheu. Ter o direito adquirido de ir e vir na hora que bem entender, com quem e pra onde achar que deve. Separar o lixo seco do orgânico, contribuindo com as futuras gerações. Estudar, ler, viajar e realizar outras atividades, não necessariamente onerosas, para se atualizar e reciclar os assuntos. Metade dessas premissas lhe garantem o entendimento deste texto. Por favor, as mulheres homossexuais que me perdoem: vocês são as mulheres mais felizes do mundo e não estão contempladas neste estudo de entropia social e conjugal feminina.

Fenômeno social concreto observado: a ascensão da mulher, independente financeiramente, chefe de família, mãe solteira, que cumpre jornada de trabalho tripla, faz mestrado, doutorado, ocupa altos cargos e, eventualmente, fuma charuto em confrarias. Dessas tantas mulheres, boa parte delas já aprendeu, faz tempo, a abrir sozinha o vidro de conserva, a trocar a lâmpada queimada e a fazer o seu imposto de renda. Que pena, foi-se o romance. Hoje, os predicados masculinos precisam de muito mais sofisticação do que simplesmente abrir a porta do carro ou pagar a conta do restaurante. Essa mania de engrandecimento da mulher das últimas décadas provocou uma desordem social jamais imaginada, nem pelos filósofos e nem pela Faith PopCorn. Por que não deixaram tudo como estava? Os homens no comando, provedores da casa, famílias com filhos, mãe e pai na mesa de jantar? Foi assim que aprendemos, desde sempre, desde os nossos avós. Essa mania do ser humano... eterno insatisfeito. Temos uma geração de mulheres cardíacas, estressadas, hipertensas, que gritam no trânsito e moram em apartamentos brancos e bem decorados, com cheiro de alecrim da Le Lis Blanc. Sem toalha molhada sobre a cama, sem futebol, sem queijo derretido grudado na torradeira. Elas têm trabalho, casa, comida, teatro, cinema, amigos, jantares, salário, mas estão sozinhas no aspecto conjugal do vocábulo. Se ponderarmos todas essas variáveis, podemos entender porque essas mulheres passaram a exigir muito mais dos seus parceiros para que estes possam assim se considerar um dia. Que ele seja tão ou mais bem-sucedido; tão ou mais culto; tão ou mais informado; tão ou mais globalizado. E daí fica difícil. Se considerarmos ainda que, no Brasil, a quantidade de mulheres é superior à de homens, o contingente de possibilidades fica um pouco mais limitado.

Ainda acho que as pessoas são capazes de amar umas às outras. As pessoas estão tão a fim de amar que amam várias pessoas, e não pra vida toda. Vou chover no molhado: estamos vivendo em um contexto altamente frenético e competitivo. Individualista, isso é inegável. Cada vez mais o “eu” ganha força e os livros de auto-ajuda estouram as edições. Diante disso, amor eterno é um “ativo-passivo”, está em desuso. Então temos: muito mais mulheres do que homens, mulheres mais exigentes e uma sociedade inteira se amando, sem compromissos formais, muitos divórcios e outras tantas manifestações de relacionamento bem mais originais, eu diria. Pensando fria e matematicamente, temos um diagnóstico avassalador, quase desesperador: a solidão eterna para as mulheres que exigem demais. Elas buscam relacionamentos, buscam laços – um comportamento muito típico do ser humano, que não sabe viver sozinho – mas está difícil encontrar alguém que preencha as lacunas. Dependendo do ponto de vista, uma mulher exigente passa a ter duas possibilidades pontuais - um: mudar de atitude e rever o seu padrão de exigência – daqui a pouco, aquele auxiliar de contabilidade que usa camisa social de mangas curtas não é tão mal assim, além do que, a mãe dele faz um doce de abóbora cristalizada que é uma beleza! Ou, dois: se conformar em encontrar em várias pessoas diferentes aquilo que ela buscaria em um único relacionamento. Eu explico – antes que me apedrejem em praça pública por apologia à poligamia - não é nada disso. A nossa vida é formada por vários pedacinhos que se complementam ao longo do caminho, como em um ciclo - o bom e velho ciclo da vida. A gente nasce, cresce e morre, e nesse ínterim, fazemos a nossa interferência particular na vida de uma porção de pessoas. Existe um núcleo - o centro, o equilíbrio - que em geral é onde ficam a nossa família, os nossos valores, nossas aspirações – são coisas menos flutuantes, mais sólidas, que são as responsáveis diretas pela nossa formação de caráter, pela estrutura que vamos levar para o resto da vida. Ao redor deste núcleo, orbitam uma série de outros fatores, como amigos, amores, profissão. Estes são mais “vem-e-vão”, mudam com mais freqüência, e em geral levam algumas coisas embora enquanto trazem outras. Então, no centro, a estrutura; ao redor, o aprendizado. E assim vai girando a nossa máquina.

Eu falava sobre a conformidade da mulher exigente, que se vê obrigada a buscar, nessa órbita tão farta de possibilidades, as diversas soluções para algo que já não tem mais uma única solução – pelo menos pra ela, mulher exigente. Um amigo para carregar as sacolas pesadas do super; um amante para os momentos em que a libido está indisciplinável; várias amigas para dar risadas, comer torta de chocolate e liberar a dopamina acumulada; um cachorro macho, para lhe dar carinho e afeto sem pedir nada em troca, que quando você dá um grito, ele baixa a cabeça, abana o rabo e excita em você todo o seu poder de comando; um projeto especial no trabalho, que vai te exigir algumas horas extras e um reconhecimento intelectual especial – afinal, quem ganha aumento por esforço extra é peão e não você, mulher exigente.

Os modelos é que estão errados.

Eis ai uma boa explicação – ou uma boa desculpa. E tudo continua sendo culpa da mulher inquieta, que insistiu em roubar a poesia da sociedade patriarcal machista e foi à luta – será que tudo começou com a queima dos sutiãs? Bem, deixando os clichês de fora, o assunto é muito sério. Os modelos de relacionamento que insistimos em perseguir são verdadeiramente lindos, ainda estão nos filmes e nos livros. Mas a maioria está na memória das nossas avós ou tias velhas. Eu tenho uma amiga que sempre me comenta sobre os relacionamentos aparentemente perfeitos que ela acompanha – como expectadora. Fulana casou com o fulano, que ela namora desde os dezesseis. Compraram uma casa linda, os dois têm bons empregos, viajam duas vezes por ano. Agora que ela completou trinta e dois anos e eles vão ter um filho, conforme planejado desde sempre. A fulana está com depressão, faz hidroginástica desesperadamente, e só pensa na frase célebre proferida pelo fulano: “Vê se depois de ganhar o bebê na vai ficar gorda e caída, por favor, fulana!”. É... os modelos... tudo parecia perfeito, dentro do planejado.
Aqueles modelos que a gente conhece não se aplicam mais. Eles não estão errados, nós é que estamos insistindo em usar os modelos certos nos contextos errados. É como ir de longo Carlos Tuvfeson num casamento ao meio-dia – você vê, até o meu exemplo tem um “q” de recalque. Sim, eu queria ter um marido perfeito, que me amasse, gostasse dos meus defeitos e viesse atrás de mim depois de uma briga pra me dizer isso na frente de todo mundo – uma coisa meio Harry e Sally, sabe? Eu queria chegar em casa e ter alguém inteligente, complacente, maduro, bem-sucedido, analisado, carinhoso, meigo, de chinelos, assistindo Jornal Nacional no sofá com o gato no colo, me recebendo com um sorriso, um beijo e a célebre pergunta: “como foi o seu dia, meu bem? Vamos comer um sushi ali no Saikô?”... Opa, opa... esqueci que eu marquei um pôquer com as gurias... pronto, o surto passou. Cheguei em casa, tomei uma ducha correndo, dei comida pro gato e já tô saindo.

o tempo

Todo mundo quer ter tempo hoje em dia. Dizem que este é um dos ativos mais valiosos. “Rico é quem tem tempo”, já dizia um cara chamado Costinha. Eu acho isso também. Eu gostaria de ter mais tempo do que o tempo que eu tenho, porque ele cabe só na caixinha do trabalho. Mentira: sobra um espaço pro congestionamento da ida, o da volta e pra dormir. Mas às vezes eu penso que se eu tivesse mais tempo, acabaria, fatalmente, tendo mais trabalho pra caber nesse tempo.

Nesse momento, nada tenho para fazer. Então resolvi sentar e escrever sobre o assunto, só para não perder o costume de arrumar alguma coisa para fazer. A consciência do profissional moderno cosmopolita pesa demais ao assumir o ócio, nem que por alguns instantes, até lembrar que a frase conclusiva daquela defesa de posicionamento do novo cliente ficaria ainda melhor se fosse reescrita.

A escassez de tempo não combina, definitivamente, com perfeccionismo. O perfeccionista é um sujeito quase tão obsessivo, que precisa de tempo para concluir alguma coisa que traga satisfação para si. Fato comprovado: perfeccionismo é uma característica em extinção. Evoluirá junto com o ser humano e seus novos hábitos e vai acabar sumindo, assim como o dente siso, as unhas e alguns cabelos do corpo. Assim como – dizem – o rabo nos abandonou (fisicamente) por uma questão evolutiva – perdeu a utilidade quando nos tornamos seres bípedes. O perfeccionismo perdeu a utilidade ao nos tornarmos ocupados demais.

Que triste saber que essa característica caiu de moda. E se formos analisar profundamente, a categoria está perdendo mercado. O clássico transtorno obsessivo compulsivo, a mania de perseguição e outras demonstrações de traumas infantis ou lacunas psicológicas evidentes estão em desuso no mundo ocupado. Tudo é tão cronometrado que as pessoas acabam até parecendo mais normais. A gente nem percebe mais o tiques do auxiliar administrativo, que pisca o olho ao mesmo tempo em que enruga o canto da boca; do trainee que marca as folhas de papel com a bunda da xícara embebida no café que escorreu no pires. E talvez seja assim que adolescentes perturbados passam despercebidos até fuzilarem a escola inteira. Vai ver sobrou um tempinho no dia e o cara resolveu se ocupar. A culpa é do tempo que nos falta.

Em outros tempos, o tempo respeitava a necessidade particular de todo o ser humano em manifestar suas idiossincrasias, mas isso eram outros tempos. Tempos onde até a palavra idiossincrasia era mais usada – pasmem! Certamente é por isso que os casamentos e outras formas ditas normais de relacionamentos entre seres humanos estejam fracassando com tanto sucesso. Minha vizinha ainda não conseguiu assinar o divórcio porque os horários não batem – os dela, os do candidato a ex-marido e os dos advogados. O juiz é o único que parece ter horário, mas como ele é funcionário público, definitivamente não se encaixa nessa tese.

Há uns meses eu comprei uma casa e o meu banco me ofereceu um produto onde, pagando uma pequena taxa eu conseguiria ter um atendimento mais rápido do que o normal. Espetacular – o banco me cobra para ser ágil, ou seja, ele cobra por um serviço em cima do serviço que eu já tenho como correntista, que paga taxas e outros dinheiros para ter direito a ser cliente do banco. Em se tratando de uma das instituições mais lucrativas do universo (não passei nem perto dos subprimes) ele já não deveria saber que o serviço para o cliente do mundo ocupado tem que ser mais rápido sempre? Aceitável – assim como eu pago para que a empresa de filtro de café seja ecologicamente correta utilizando papel reciclado e melhore a sua imagem com o meu dinheiro. O mundo ocupado não tem tempo nem para ter bom senso.

O Domenico Demasi defendeu o ócio criativo – um momento em que fazer nada pode fazer toda a diferença na sua vida. O meu amigo alternativo lá de porto alegre inventou o nadismo, um tipo de ritual em que as pessoas se concentram para não pensar em nada e deixar que a cabeça vá pra qualquer lugar vazio, branco, inócuo durante 15 minutos, todos os dias. Ou seja: tem gente investindo o seu tempo em desenvolver maneiras de fazer com que as outras pessoas busquem tempo para não fazer nada. Incrível.

Essa semana, após muita reflexão, decidi que vou acrescentar algum desses novos conceitos ao meu job description, contando inclusive pontos para o atingimento das minhas metas pessoais na empresa. Vou inclusive sugerir que esse se torne um novo pilar de rendimento da empresa, e que seja aplicado a todas as outras áreas estratégicas como um novo passo da organização rumo ao futuro, à modernidade. Obviamente vou embasar muito bem o meu raciocínio através das grandes teorias vigentes; vou ler os estudiosos, os especialistas e montar uma defesa sobre o assunto. Assim que me sobrar um tempinho.