sábado, 12 de julho de 2014

Julgo.

O meu gosto por escrever sempre foi motivado por desabafos e críticas. A grande maioria das pautas mais líquidas sempre foi o comportamento humano e seus jeitos menos requintados. Um dia eu conheci o amor e parece que perdi a inspiração. Pelo menos essa foi a explicação mais rápida e não menos plausível que arrumei para entender porque passei mais de um ano sem rascunhar uma linha sequer.

Bobagem. Na verdade, eu amadureci. Algumas idiossincrasias do ser humano perderam a graça, outras me empreguiçaram. O que eu preciso agora é exercitar o hábito nessa nova roupagem pós-30 e poucos.

Uma coisa, infelizmente, não mudou: meus rompantes criativos sempre surgem no banheiro, durante um bom xixi, ou na madrugada insone e, considerando que não tenho mais a mesma disposição de uns anos atrás, a vontade de voltar com tudo merece pipis mais longos.



O mais interessante é que é muito interessante escrever sobre as pessoas. Não sobre elas enquanto elementos únicos, mas sobre a sua epopéia belíssima de se relacionar com os demais seres da mesma espécie. Gosto de escrever sobre pessoas no gerúndio, atuando, desempenhando seus mais diferentes papéis, nos mais bem escritos e originais roteiros. Sou fascinada. Quando velha for, serei aquela que fica na janela de casa, só acompanhando o movimento.

Sim, são roteiros originais. Jamais se repetem. As releituras são possíveis, mas nunca totalmente fiéis, pois existe uma química única em cada combinação de pessoas, em cada contexto, em cada cenário. Ninguém é sempre igual. Ninguém é chato, inseguro, cruel ou divertido sempre e para todo mundo.

Julgue livremente uma pessoa nesse instante, de preferência um alvo qualquer da sua antipatia, e será inevitável concluir que ela não vive numa caverna isolada do mundo real. Tem pessoas que a amam e riem de suas piadas. Gostam de sua comida, a convidam para viajar. Porém, é obvio que a química entre vocês não foi bem-sucedida. Acontece o tempo todo, não se preocupe. A unanimidade é que é estranha – ou burra, como dizia Nelson.



Quando eu falo em química, não me refiro somente ao movimento daqueles bichinhos que caminham no nosso corpo. Há que se considerar fundamentalmente os contextos, os aprendizados adquiridos, os livros lidos, as canções dedilhadas. Não se pode desprezar o meio e a sua influência inexorável sobre o que nos tornamos e como nos transformamos todos os dias.

Há centenas de frases-clichê para um assunto igualmente ordinário.

Somos seres em construção
Impossível agradar a gregos e troianos

Menos ordinário é pensar que, ao admitirmos essas centenas de milhares de possíveis combinações, possamos ser juízes menos definitivos e mais auto-analíticos, pois essa mistura pressupõe, pelo menos, dois elementos.


quinta-feira, 21 de março de 2013

Perder

Perdas são diárias e frugais.

Desde um dente de leite na infância, passando por uma luva, um guarda-chuva, um amigo a quem traímos. Perde-se o emprego, perde-se o controle, perde-se o ônibus por míseros segundos.
A maioria delas dói, mas algumas perdas ensinam.

É preciso aprender a perder.

Perder é da vida, e as piores são sempre aquelas em que a vida resolve se escapar de alguém.
Prefiro os ganhos, mas quando daria a eles o devido valor, não fosse a iminência cruel da perda?

O problema não está na perda, mas na história que ela deixa. Tudo fica mais vivo, mais presente.
Bem menos perdido, bem menos aprendido. Bem menos frugal e muito, mas, muito mais diário.


quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Desde junho

Não escrevo desde junho.
O que não quer dizer que não tenho assunto desde então. Ao contrário, a pauta ficou extensa, a rotina revirou, as decisões se apresentaram. E as mudanças inevitaram. Quando assim, se escreve, se lê, mas não se publica.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Medidas.

As mulheres, tolas, tem unidades de medida completamente distintas e particulares para o amor.

Mede-se o sentimento pelos jantares, pelas velas, pelas vezes que ele entra no seu blog e comenta os seus textos.
Mede-se o envolvimento pelas garrafas de vinho e pela quantidade de vezes que ele fala sobre amor e filhos todos os dias.
Mede-se a cumplicidade pelos presentes assertivos, pelos almoços improváveis no meio da semana, pela preguiça compartilhada.
Mede-se pela quantidade de vezes que ele tira você pra dançar, oferece-lhe um brinde ou elogia o seu vestido.


E isso tudo tá certíssimo.


segunda-feira, 6 de junho de 2011

Feliciando.

A felicidade deve ser um dos temas mais discutidos, replicados e treplicados de toda a história da humanidade em todos os tempos, âmbitos e foruns. Na música, na filosofia, na conversa entre comadres, estamos sempre perseguindo respostas para o intangível.

Ser feliz? Estar feliz? O meu favorito é "A felicidade é uma eterna busca..." dentre tantos outros bordões populares que habitam o inconsciente coletivo e alimentam a retórica cotidiana na caça por uma resposta convincente e - porque não - eloquente.

Aprecio que cada um tenha a sua teoria e que se juntem os comuns. Sigam-me aqueles que querem perseguir a felicidade com doses equilibradas de algumas mazelas, porque sem o mal não se sabe o bem, sem o amargo não se conhece o doce, sem a dor não se entende a bênção de uma risada larga por motivo nenhum.


quarta-feira, 1 de junho de 2011

Flores

Estão no vaso.
No canteiro.
Na réstia de verde entre as rachaduras de um velho muro.
Não importa de que tipo, qual o traço.
Preciso delas, sou totalmente viciada.
Carrego nas costas.
Perfume neutro, cores das mais diversas.
Textura macia, manchinhas.

Preciso olhar para elas e lembrar de algumas belezas que eu, por vezes, esqueço.

terça-feira, 29 de março de 2011

Mentira.

Esconde. Engana. Protege.

Não sei exatamente que função você dá para as suas, mas uma coisa é certa: não deveria ser tão confortável assim fazê-lo.

Dizem os pais que às vezes "é pro seu bem". Dizem os namorados que "foi pra lhe poupar". Dizem os chefes que "faz parte do negócio". Em suma, a gente sempre acha que as nossas mentiras têm motivações mais nobres do que as dos outros, que são imperdoáveis e serão punidas no purgatório.

Eu não sou fã da hipocrisia que ronda o assunto, tampouco tolero a "marvada", mas atire a primeira pedra quem nunca lançou mão deste recurso, ou quem nunca se culpou, mesmo que por míseros instantes, protegido pela máscara da boa intenção.

Tem sempre um "eu só omiti" ou um "era óbvio, eu não precisava dizer". Esses são os piores. É que nem parodiar a palavra "mentira" com "faltar com a verdade". Eufemismos dignos dos piores... ou dos melhores, nesse caso.

Não vou mentir, dá preguiça esse assunto.