O meu gosto por escrever sempre foi motivado por desabafos e
críticas. A grande maioria das pautas mais líquidas sempre foi o comportamento
humano e seus jeitos menos requintados. Um dia eu conheci o amor e parece que
perdi a inspiração. Pelo menos essa foi a explicação mais rápida e não menos
plausível que arrumei para entender porque passei mais de um ano sem rascunhar
uma linha sequer.
Bobagem. Na verdade, eu amadureci. Algumas idiossincrasias
do ser humano perderam a graça, outras me empreguiçaram. O que eu preciso agora
é exercitar o hábito nessa nova roupagem
pós-30 e poucos.
Uma coisa, infelizmente, não mudou: meus rompantes criativos
sempre surgem no banheiro, durante um bom xixi, ou na madrugada insone e,
considerando que não tenho mais a mesma disposição de uns anos atrás, a vontade
de voltar com tudo merece pipis mais
longos.
O mais interessante é que é muito interessante escrever
sobre as pessoas. Não sobre elas enquanto elementos únicos, mas sobre a sua
epopéia belíssima de se relacionar com os demais seres da mesma espécie. Gosto de
escrever sobre pessoas no gerúndio, atuando, desempenhando seus mais diferentes
papéis, nos mais bem escritos e originais roteiros. Sou fascinada. Quando velha
for, serei aquela que fica na janela de casa, só acompanhando o movimento.
Sim, são roteiros originais. Jamais se repetem. As
releituras são possíveis, mas nunca totalmente fiéis, pois existe uma química
única em cada combinação de pessoas, em cada contexto, em cada cenário. Ninguém
é sempre igual. Ninguém é chato, inseguro, cruel ou divertido sempre e para
todo mundo.
Julgue livremente uma pessoa nesse instante, de preferência
um alvo qualquer da sua antipatia, e será inevitável concluir que ela não vive
numa caverna isolada do mundo real. Tem pessoas que a amam e riem de suas
piadas. Gostam de sua comida, a convidam para viajar. Porém, é obvio que a
química entre vocês não foi bem-sucedida. Acontece o tempo todo, não se
preocupe. A unanimidade é que é estranha – ou burra, como dizia Nelson.
Quando eu falo em química, não me refiro somente ao
movimento daqueles bichinhos que caminham no nosso corpo. Há que se
considerar fundamentalmente os contextos, os aprendizados adquiridos, os livros
lidos, as canções dedilhadas. Não se pode desprezar o meio e a sua influência
inexorável sobre o que nos tornamos e como nos transformamos todos os dias.
Há centenas de frases-clichê para um assunto igualmente
ordinário.
Somos seres em construção
Impossível agradar a gregos e troianos
Menos ordinário é pensar que, ao admitirmos essas centenas
de milhares de possíveis combinações, possamos ser juízes menos definitivos e
mais auto-analíticos, pois essa mistura pressupõe, pelo menos, dois elementos.